A atividade de levantamento e mapeamento da realidade atual de uma organização, comumente designada de AS-IS, é geralmente o ponto de partida da grande maioria dos projetos de arquitetura. Porém, esta prática tem vindo a revelar-se insustentável.
A justificação desta abordagem vem normalmente acompanhada por frases como: “Para poder evoluir é essencial saber onde se está”. Apesar de sensata, não se adéqua mais à agilidade dos dias de hoje.
A mudança organizacional é cada vez mais rápida e os ciclos de transformação são cada vez mais curtos. Porém, a percepção de que este fato permite uma abordagem mais pragmática e simples ao problema da Arquitetura Empresarial, é normalmente ignorada.
O PROBLEMA
A fase de levantamento inicialmente referida e o carregamento do estado atual da organização num repositório ou base de conhecimento é talvez uma das etapas mais críticas numa iniciativa de Arquitetura Empresarial. Isto porque, tipicamente, existe uma forte probabilidade das informações obtidas após a conclusão do levantamento estarem já desatualizadas face à realidade da organização. Como este levantamento do AS-IS é sempre algo bastante complexo e exigente em termos de esforço, a suspeita (ou em muitos casos a certeza) de que irá ficar obsoleto rapidamente é um forte elemento contra uma iniciativa de um projeto de Arquitetura Empresarial. Aliás, este será talvez o principal argumento dos descrentes sobre os benefícios da Arquitetura Empresarial.
Antigamente, antes de entrarmos na era globalizada que vivenciamos hoje, o fluxo de informação, assim como o ritmo das mudanças organizacionais, era lento. Os ciclos de transformação duravam entre 5 a 7 anos, o que permitia realizar um levantamento do AS-IS que se revelava útil e permanecia válido durante pelo menos nos primeiros 2 a 3 anos. Com a rápida redução dos ciclos de transformação, a validade de um levantamento do AS-IS vem naturalmente se reduzindo na mesma proporção.
Vivemos numa era em que o que é novo agora pode tornar-se obsoleto amanhã. E o mesmo se aplica às informações que servem de base à tomada de decisão nas organizações. Quanto mais rápidos são os ciclos de transformação, mais irrelevante é o detalhe do AS-IS, havendo portanto cada vez menos necessidade de realizar um levantamento detalhado das informações que traduzem a realidade atual da empresa.
Consideremos a título de exemplo uma organização que está planejando o início dos projetos de transformação dentro de 6 meses, e que até lá tem que concluir os projetos que estão em curso. Neste caso concreto, qual a relevância do AS-IS da organização para o planejamento das iniciativas a começar daqui a 6 meses? Com efeito, quanto maior for a transformação decorrente dos projetos em curso, menor será a exatidão das informações hoje levantadas. Após 6 meses, o AS-IS inicialmente mapeado não irá mais traduzir a realidade da organização e como tal não será fiável para a tomada de decisões.
Por absurdo, imaginemos que os projetos em curso iriam alterar toda a organização. Neste cenário o planejamento das ações a iniciar em 6 meses não precisaria do AS-IS de hoje, mas sim do TO-BE resultante dos projetos em curso.
Na prática, as organizações precisam tanto do AS-IS como do TO-BE resultante dos projetos em curso. Ou melhor, precisam da integração dessas duas visões. É esse o desafio que cabe aos projetos de Arquitetura Empresarial nas organizações que estão em mudança.
SOLUÇÃO
Pegando no tópico do último artigo, a capacidade de geração automática de representações/modelos da organização revela-se um instrumento essencial na mitigação deste problema. Desta forma, torna-se possível extrair a informação dos modelos TO-BE produzidos manualmente pelas equipes dos vários projetos e gerar automaticamente um modelo integrado que represente a realidade futura da organização em função da conclusão dos projetos em curso.
Fazendo o paralelo com a física, quanto maior for a velocidade de um corpo menos relevante é a sua posição num determinado momento. Na arquitetura empresarial, quanto maior for a velocidade de transformação da organização menos relevante é o seu AS-IS.
Felizmente, fazer o levantamento do que os projetos estão implementando (e que será o TO-BE imediato) é significativamente mais simples do que realizar o levantamento do que foi feito lá atrás, e que já ninguém quer saber na verdade. Mas este será o tema do próximo artigo.
Autores: Prof. Pedro Sousa e Pedro Miguel Sousa
2 Comentários
Prezado Pedro, esta sua teoria está um tanto quanto pobre de embasamento e vê-se que não há uma bagagem de experiencia profissional que denote uma conclusão tão superficial sobre o assunto.
O Mapeamento de processo não tem somente como objetivo levantar como a empresa operacionaliza as suas atividades, ou documentar uma atual falta de estrutura, mas sim, captar todas as particularidades inerentes àquela empresa.
Toda organização tem uma particularidade que deve ser absorvida por uma nova estruturação, que vise otimizar o processo atual daquela empresa e não simplesmente entregar à ela um modelo pronto que com certeza não atenderá às suas necessidades como um todo.
Ficarão sobrando peças que com o passar do tempo acabarão sendo inevitavelmente introduzidas à este “modelo” de forma paliativa, condenando a empresa novamente à ter um processo falho, oneroso, sem padrão e “insustentável”.
Consequentemente isso trará prejuízos à empresa com gastos para consertar os furos do processo “modelo” que foi entregue como a solução de seus problemas.
Um bom profissional, munido de técnicas comprovadamente eficazes pode realizar um mapeamento de processos em tempo hábil para atender a demanda de um projeto de estruturação organizacional mesmo que em curto espaço de tempo.
Muito bem colocado seu comentário Daniela, entendemos a necessidade da empresas em coisa futuras, mas muitas das vezes é uma consultoria que vem realizar o levantamento e ela necessita de conhecer a cultura o tipo de trabalho e as particularidades da empresa e na fase As Is que isso é evidenciado e traduzido para o modelo futuro, o que se vê são argumentos de melhores práticas, mas e fosse assim todas as empresas estariam bem ou mal era só seguir as melhores praticas, mas vemos que na prática não é isso é necessário analisar a empresa-a-empresa, o que vejo é que a técnica de levantamento, equipe preparada é que tem fazer isso no menor tempo possível.