Em Maio do ano passado eu publiquei um artigo no Profissionais TI explicando por que o fim do suporte ao Windows XP não seria tão assustador quanto a Microsoft e a mídia especializada em geral tentam fazer parecer.
Basicamente, do ponto de vista do usuário final, nada mudará, pois a maioria nem sabe o que é suporte e muito menos que o sistema pode – e deve – ser atualizado. Ainda hoje, existem muitas pessoas que utilizam o Windows XP SP2, que já teve seu ciclo de suporte encerrado há um bom tempo.
Se, no entanto, para o usuário final praticamente não existem motivos de preocupação – afinal, se o sistema foi comprometido por algum malware, basta chamar o vizinho “técnico” para formatar o computador – para muitas empresas a situação é desesperadora, a ponto de alguns profissionais já estarem chamando o dia 8 de Abril, data quando o sistema deixará de ser suportado, de “Apocalipse XP“.
Quando o Windows XP foi lançado, em Outubro de 2001, ele era um sistema extremamente pesado e incompatível com a maioria dos programas e dos periféricos existentes. Com o tempo, no entanto, ele foi sendo aperfeiçoado e se transformou em um dos Windows mais estáveis que já se teve notícia. O atraso no desenvolvimento e a forte rejeição do público ao seu sucessor, o Windows Vista, apenas colaboraram para que o XP conquistasse mais adeptos a cada dia. E, agora, livrar-se desse fenômeno não é uma tarefa fácil nem para a Microsoft e muito menos para as empresas que ainda o utilizam.
O principal foco de preocupação não são os desktops que ainda rodam o sistema, mas sim equipamentos como quiosques e caixas eletrônicos. Caso você nunca tenha parado para pensar, esses equipamentos nada mais são do que computadores comuns que rodam um programa específico assim que são ligados.
É fácil imaginar que tais equipamentos não recebem a política de atualização adequada. Até pouco tempo, um supermercado de minha cidade utilizava computadores com Windows 95 em seus caixas. Uma reportagem publicada em Janeiro no site da revista Info revelou que o Windows XP está presente em 95% dos caixas eletrônicos de todo mundo. Não é difícil imaginar que grande parte desses 95% sejam máquinas com o Windows XP original de 2001 ou com o SP2 que, uma vez postas em operação, jamais receberam quaisquer atualizações de segurança e estão, assim, vulneráveis a qualquer tipo de ataque.
Você poderia argumentar, porém, que os caixas eletrônicos não estão conectados à internet e que fazem parte de uma VPN segura, o que diminui o risco de ataques. Mesmo assim, essa preocupação não fica totalmente anulada. Estudos recentes mostraram que basta um pendrive infectado para roubar um caixa eletrônico e, além disso, o assunto não é novo: este vídeo de 2008 mostra um caixa do extinto Banco Real infectado por um aplicativo malicioso.
O grande problema do fim do suporte ao Windows XP é que os criminosos virtuais terão a certeza de que, após o dia 8 de Abril, a Microsoft fará nada para corrigir as falhas remanescentes do sistema. Imagine que um desses criminosos consiga descobrir, hoje, uma falha que afeta o XP. Se ele for “esperto”, vai guardar segredo absoluto sobre sua descoberta. Assim, no dia 9 de Abril, ele poderá explorar livremente essa vulnerabilidade, tendo a certeza de que ninguém irá corrigi-la. Mais ainda: imagine que tal falha seja utilizada para construir um malware que seja capaz de se replicar: o criminoso vai em um caixa eletrônico, espeta o seu pendrive e, em poucas horas, todos os terminais que estão naquela VPN já estarão infectados.
A solução, como sempre, não é simples. Em um mundo ideal, a migração para sistemas mais modernos em grandes empresas já deveria estar se encaminhando para os finalmentes, mas sabemos que, em muitos lugares, ela sequer começou e nem vai começar nos próximos dias. A mudança da plataforma Windows para Linux também não seria algo tão simples, pois, além do tempo para migração, ainda há a questão dos drivers para dispositivos como leitores de cartão ou dispensadores de notas.
Enfim, mesmo o usuário final que utiliza seu Windows XP pirata e pode se dar ao luxo de formatar seu computador a cada malware que aparece, tem motivos para se preocupar, pois, direta ou indiretamente, cedo ou tarde todos seremos vítimas dessa situação criada pela própria Microsoft.
2 Comentários
E aí André tudo bem?
Achei muito interessante o ponto de vista levantando por você. Acredito que após o fim do suporte, todos que utilizam Windows XP estarão cada vez mais vulneráveis. Mas uma migração para os sistemas operacionais mais novos será uma fatalidade, visto que poderá ocorrer das novas versões de aplicativos e anti-vírus não serem suportadas pelo “antigo” SO.
Abraço e até.
Primeiro que quem colocou windows no primeiro caixa eletrônico não entendia nada de segurança muito menos de tecnologia, apesar de ser extremamente estável e eficiente ainda era um windows, cheio de falhas e problemas, alguns que nunca foram nem serão corrigidos pela M$. Segundo que é sabido há tempos que todo OS tem um tempo de vida, quando do lançamento do Vista ou até mesmo do Windows 7, as empresas responsáveis já deveriam ter previsto o fim do XP e se preparado para migrar para novas versões ou tecnologias melhores(*nix). Agora por serem bem brasileiros e terem deixado tudo para última hora as instituições financeiras deveriam cobrar essa migração gratuitamente dos responsáveis (por não anteverem isso), ou simplesmente abandonarem essas empresas e contratarem novas que possuam capacidade e inteligência para manter os sistemas sempre funcionais 24/7/365 independente de um sistema pago e falho.