FALTA POUCO MAIS DE UM MÊS. Depois de inúmeras denuncias, controvérsias e atrasos, enfim chegamos ao que pode ser considerado um dos maiores eventos que o Brasil já sediou, a Copa do Mundo de 2014.
As próximas semanas trarão a resposta a uma pergunta que assombra muitos profissionais que lidam com gestão de riscos: Com os olhos e holofotes do mundo centrados em nossa nação, será que teremos finalmente um momento de merecida glória ou um retumbante fracasso? Indo além do nobre esporte bretão disputado no tapete esmeralda, quando entramos no campo digital talvez nossa seleção não seja a mais preparada. Somos uma nação virtual com mais de 100 milhões de internautas, onde a cada 17 segundos existe uma tentativa de golpe financeiro com o uso de identidade falsa, temos mais de 2500 denúncias de crimes online por dia e nossos esforços em lidar com ciberataques podem ser considerados – na melhor das hipóteses – precários.
O crime não tira férias e nem assiste aos jogos da Copa
Quando olhamos individualmente para organizações, as estatísticas apontam que datas comemorativas e grandes eventos representam um número maior de ataques cibernéticos. Esse movimento é natural, visto que boa parte das empresas acaba contando com equipes menores, trabalhando em regime de plantão. Imagine que, se já não é fácil monitorar o ambiente corporativo com uma equipe completa, um quadro reduzido amplia a possibilidade de não se detectar ou tratar um incidente a tempo. Enquanto estamos de olho nos telões, torcendo pela seleção canarinho, vazamentos de informações, infecções por malwares, golpes de phishing e similares aumentam tanto quanto a quantidade de faltas cavadas por certos jogadores, frente a uma marcação mais cerrada.
Acredito que seja evidente a todos que – gostando ou não – vai ter Copa sim, e a esmagadora maioria dos brasileiros aplaudirá o evento. Esse fato não diminui as oportunidades que movimentos como o “Não Vai Ter Copa” terão para divulgar sua mensagem. Um ponto importante é entendermos a tênue diferença entre o ciberativismo – a versão repaginada do sofativismo, que usa primariamente redes sociais para divulgar idéias – e o hacktivismo ou mesmo o ciberterrorismo. Esses dois últimos fazem uso da tecnologia aliada ao medo e caos, juntando uma massa cega e inconsequente de internautas, que não tem uma real percepção do prejuízo que um ataque pode causar a uma empresa ou órgão público. Muito além de empresas privadas como a própria FIFA e seus patrocinadores, alvos de hacktivistas incluem serviços críticos como polícia, bombeiros e até mesmo as forças armadas. Isso ficou claro em 2013, durante a chamada “Operação 7 de Setembro”, quando crackers atacaram mais de 50 sites nacionais, dos quais 75% eram órgãos do governo. Os ataques – geralmente de negação de serviço – chegaram a derrubar páginas como das Polícias Militares do Rio de Janeiro e Distrito Federal. Sinceramente não é difícil imaginar um cenário onde ataques similares poderiam visar a desestabilização da infraestrutura crítica desses órgãos, podendo chegar a comprometer operações de proteção a vida.
A administração pública já vem tomando algumas medidas para garantir a segurança da informação em grandes eventos, como a implementação dos Centros de Comando e Controle e a forte mobilização de agentes da segurança pública durante a Copa do Mundo. Entretanto, nas próprias palavras do Delegado José Mariano – da Polícia Civil de São Paulo – “Só agimos reativamente. Falta integração e articulação para deixarmos de ser o país com pior índice de segurança da informação na América Latina”. Essa escassez de ações proativas é a lacuna que permite ao Brasil ser um dos países mais afetados pelo cibercrime, com um prejuízo anual estimado em mais de R$ 18,3 bilhões de acordo com o Norton Cybercrime Report 2013. Como resolver esses problemas? Acredito que, apesar de empecilhos, como o escasso investimento nas iniciativas pública e privada e o pequeno número de profissionais experientes no mercado, nosso maior problema é a falta de uma cultura em Segurança da Informação. É “fácil” investir em uma das muitas tecnologias de proteção disponíveis no mercado, mas enquanto não tivermos bons profissionais a frente das mesmas, e um apoio executivo na Alta Direção das empresas, vamos continuar levando gol contra.
2 Comentários
Claudio,
Parabéns pelo artigo!
Existem cases de de aplicações práticas de cibersegurança em eventos anteriores como as Olimpiadas de 2012 e a Copa de 2010? Assim ficaria mais fácil aplica-las nos grandes eventos que acontecerão no Brasil.
Olá Leonardo!
Obrigado pelo comentário, fico feliz que tenha gostado do artigo!
Como esse é um assunto um pouco sensível, normalmente as organizações diretamente responsáveis não divulgam tantas informações ao público em geral.
Como um amigo meu está responsável pela Segurança da Informação na Rio 2016, eu sei que ano passado ele deu um pulo na Rússia para acompanhar as olimpíadas de inverno de Sochi. O mesmo deve ser feito pelos comitês/equipe responsáveis pela SegInfo na Copa do Mundo do Brasil.
Na falta de material oficial, da uma olhadinha nesses dois artigos, são bem interessantes:
http://dary.us/SbOT78 – Big Data and the London Olympics Cybersecurity Challenge
http://dary.us/SbOT78 – The 2014 Sochi Winter Olympics: Security and
Human Rights Issues