De quatro formas diferentes uma pessoa pode se relacionar com uma determinada área do conhecimento, variando desde ser um total peso morto – de tanto que não sabe – até ser uma verdadeira referência – de tanto que sabe.
Em minhas recentes pesquisas na área de linguística, deparei-me com uma estruturação muito interessante para níveis de competência da qual julgo ser proveitoso tratarmos.
– Vai falar de novo sobre a importância da boa comunicação para o profissional de TI, Álvaro?
Na verdade, não. Bem, não desta vez, mas alerto que falarei sobre isso sempre, já que acredito profundamente nas vantagens do desenvolvimento dessa habilidade, tal como citado em nosso primeiríssimo artigo no Profissionais TI intitulado “Programador Precisa Falar?”.
Mas a razão de eu considerar esse modelo aplicável à área de TI é tão simples quanto lógica: o modelo é aplicável a qualquer área. E, para nós aqui, alguns exemplos deverão ser suficientes para nos manter aderidos ao tema.
De forma nada clara ou didática, os quatro níveis de competência são os seguintes: (1) não sabe o que não sabe, (2) sabe o que não sabe, (3) sabe o que sabe, (4) não sabe o que sabe.
Agora vamos ver se conseguimos tornar mais claro e didático.
Primeiro Nível
A pessoa tem tão pouco conhecimento que não sabe sequer o que ou quanto precisa aprender. Em outras palavras, não tem percepção da vastidão a ser desbravada para que consiga desempenhar um bom trabalho em determinada área. Seria o equivalente a uma criança de 8 anos que adora jogar no computador e, por causa disso, decide que, quando crescer, desejará trabalhar com computadores – o que não é exatamente a mesma coisa, embora muitos profissionais de TI se confundam bastante quando o assunto é esse…
O que ocorre com essa criança é que ela desconhece as coisas que não sabe, e talvez até mude de ideia sobre sua escolha profissional quando, por exemplo, começar a tomar contato com toda a parte chata de trabalhar na área de TI. Isso supondo que há alguma parte chata em TI… 🙂
Obs.: Para pensar sobre alguns entraves, leia nosso artigo “O TI oprimido – desvalorização do profissional”, que tem sequência em outro, chamado “Tripartite – e a verdadeira desvalorização“. Atenção especial aos excelentes comentários dos leitores.
Segundo Nível
Esse é o aplicado estudante nos primeiros anos da faculdade de TI. Ele ouve falar sobre as mais variadas linguagens de programação, assiste a palestras sobre tecnologia, vê empreendedores inovando em tudo quanto é canto do mundo e pensa: “Caramba, quanta coisa eu não sei!”.
Esse aí já está mais avançado no caminho, pois tem uma boa noção do tamanho de seu universo profissional – e do quanto há para aprender. Apenas ainda não teve tempo ou condições de contribuir com o seu próprio legado para a posteridade.
No entanto, queremos acreditar que se tempo e condições forem concedidos a esse insaciável rapaz, ele certamente atingirá o…
Terceiro Nível
A pessoa possui conhecimento de forma muito consciente, sendo possível a ela dizer com propriedade coisas como “isso não dá para fazer”, já que realmente sabe do que está falando.
Nesse nível, o profissional conhece muito bem os meios de fazer seu conhecimento se transformar em geração de valor e contorna com habilidade as situações adversas pois, devido ao seu domínio do tema, consegue conceber seus conhecimentos como ferramentas, utilizando-as caso a caso, conforme a situação pede, e maximizando suas chances de sucesso.
Quarto Nível
Aqui temos uma certa transcendência. A descrição “não sabe o que sabe” reside no fato de o processo ser tão natural que, muitas vezes, um excelente resultado é alcançado sem a pessoa se dar conta de como aquilo foi possível.
Estamos falando aqui, de uma das duas coisas. Ou (1) algum tipo legítimo de genialidade, onde a coisa acontece de estalo mesmo e ninguém explica – como Mozart, por exemplo – ou (2) uma grande experiência acumulada agindo praticamente direto nas sinapses dos neurônios, que começam por si só a combinar experiências vividas anteriormente – muitas vezes produzindo soluções que não passam pela porção consciente de nosso cérebro exceto ao final do processo, para uma validação. É a produção (não tão) misteriosa e (quase) espontânea de ideias as quais costumamos chamar de “geniais”. Poderoso esse nível 4, não?
Aliás, sobre essa segunda possibilidade do nível 4 (a grande experiência acumulada), recomendo a leitura do excelente livro de Malcolm Gladwell chamado Outliers – Fora de série que menciona a intrigante “teoria das 10.000 horas” segundo a qual uma pessoa que se dedica a um mesmo assunto por tal quantidade de tempo atinge um patamar de desempenho digno de um nível 4.
Finalizamos com aquele leve chamado à consciência que, de vez em quando, indelicadamente costumamos oferecer em nossos textos (tal como feito em Mea Culpa – esforço e carreira em TI) e perguntamos: em que nível você acredita que está?
Afinal, todo esse esquema teórico dos níveis de competência não devem servir apenas para você esbanjar conhecimento estéril (como o articulista pode ser acusado de estar fazendo nesse momento), mas para que você possa melhor conhecer a sua realidade e as suas possibilidades.
E, então, apoiado no preceito amplitudiano de que a parte mais difícil do problema não é resolvê-lo, mas identificá-lo, uma vez definido em que nível você está, fica mais fácil perceber o que falta para galgar níveis mais elevados e, assim, conseguir mais facilmente alcançar seus objetivos profissionais.
Pense nisso.
7 Comentários
Ótimo texto Álvaro. Bem legal essa aplicação na área de TI.
Quanto à sua pergunta, sobre em qual nível nos encontramos, seria possível estar num nível transitório, ou permanentemente em dois deles?
Pois, pela formação e tempo de experiência que possuo, me considero no terceiro nível em minha área de atuação. Mas em alguns casos, onde ainda não havia presenciado problema parecido, consigo encontrar a solução meio que “no automático”, provavelmente pelo conhecimento adquirido em situações parecidas anteriormente.
Olá, Luciano,
Agradeço pelo elogio. Certamente que essa configuração em quatro níveis é apenas um esquema e, assim como para quase todas as coisas na vida, não pode ser aplicado indistintamente – e nem com garantia de sucesso absoluto.
Seu comentário está, a meu ver, muito correto. Afinal, dependendo de situações, assuntos, experiência prévia etc., pode-se estar mais em situações intermediárias ou “duplas”, como você mencionou.
Podemos, inclusive, voltar a níveis menores, se a situação onde nos encontramos muda com velocidade alta. E este é, infelizmente, o caso de TI, o que nos faz precisar correr ainda mais que a média. Como diria um professor de Economia que tive (e que precisava preparar os slides da aula na noite anterior, contendo as notícias da véspera): “Ah, eu devia ser professor de matemática, pois ela está mais ou menos igual faz uns mil anos…”
🙂
Abraços,
Artigo interessante de se ler! Creio que estou no nível dois e acredito que muitos profissionais que são universitários ainda como eu também se adequam à este nível. O legal de nos nivelarmos é que futuras escolhas e decisões podem se embasar de acordo com o quanto de tempo e recursos financeiros vamos investir na área desejada para transitarmos de nível… Parabéns, gostei do artigo!
parabéns pelo excelente artigo, pena que nem todos nós, possuímos a sensibilade para fazer uma auto-avaliação, quanto a profundidade de nossa capacidade e ou entendimento.
Excelente artigo Alvaro! Acredito que estou no nível 2. Apesar do pouco tempo de trabalho no mundo da TI, a cada dia descubro coisas novas e, por consequência, tenho cada vez mais certeza de onde quero chegar. Porém, ainda há uma estrada gigante a ser percorrida.
Com certeza este artigo nos ajuda a fazer uma auto-avaliação e identificarmos os pontos positivos e os pontos a melhorar.
Abraços!
Ainda estou no nível 1 🙁
Mais tentado entrar no nível 2.
A todos, meus agradecimentos pelos elogios.
Ao Diego, digo o seguinte: essa sua consciência de que você está no nível 1 possivelmente é um indício de que já está pisando firme no nível 2!
Siga confiante.