Estresse literalmente deixa os programadores loucos (e a Síndrome do Impostor)

Há um ano fui convidada a fazer um curso em vídeo aulas para uma startup de cursos, os cursos seriam sobre Entity Framework. Eu fiquei empolgada e gravei a primeira aula, porém, não conseguia gravar as próximas. Percebi que estava tentando fazer muita coisa ao mesmo tempo sem conseguir priorizar nada, e o pior era que não me achava capaz para fazer aquilo, o que resultou no curso ser cancelado. Na época, o dono da startup me disse que eu estava com a síndrome do pato e a do polvo.

Simples: queria fazer tudo sem conseguir fazer 100% nada e, ainda por cima, me sentia incapaz de fazer o que queria.

Faz um ano que entrei na loucura de ir em muitos eventos e fazer muitas coisas e estudar muito, e o resultado foi uma estafa, um estupor e uma crise de depressão.

No pico da depressão, meu amigo Bruno me mostrou que esse era um caminho normal para os programadores. Tentamos fazer tudo e estudar tudo por que queremos ser bons. Uncle Bob, em seus livros (pelo menos nos que eu li), dizia que bons programadores praticavam sempre, estudavam muito. A lenda de que um bom programador sabe um pouco de todas as linguagens do mundo e domina uma em especifico ficou popular e eu quis também aprender todas (ao menos as populares, e não curti, ainda, ruby).

A verdade é que fica o sentimento de que somos uma farsa. Tal colega programa muito, tal colega é mais produtivo, tal pessoa é incrível, e vamos assim nos entupindo de inveja e auto cobranças. Porque não somos tão produtivos quanto poderíamos ser? Alguns acham as respostas nos remédios, e, oh!, quantos colegas eu tive que pediram remédios contra TDHA para seus psiquiatras ou neurologistas… e assim se entopem de remédios buscando foco e serem ainda mais produtivos, ainda mais profissionais.

A Síndrome do Impostor

Por que programadores têm esse estranho comportamento? Simples: Síndrome do Impostor. Essa foi a explicação que meu amigo Bruno me passou e em seguida me mandou um link de um artigo sobre programadores e essa síndrome.

Essa síndrome faz que o programador se ache um impostor, ache que não é tão bom quanto deveria ser ou acham que ele é. Por isso, fica tentando estudar cada vez mais e trabalhar cada vez mais rápido. O resultado é que os programadores portadores dessa síndrome estão, literalmente, se tornando loucos.

Para entender a síndrome imagine que o portador acredita que sabe pouco, que os companheiros sabem muito e que ele deveria saber tanto quanto eles. Uma pessoa que tem essa síndrome acredita que mesmo que tenha as tão desejadas 10.000 horas de experiência ainda é um fracasso. Curiosamente essa síndrome atinge mais as mulheres, e tenho meus palpites sobre o motivo, mas mesmo assim essa síndrome não afeta somente programadores, porém, muitos programadores possuem essa síndrome.

Além da auto cobrança, outro fator para um programador ter a síndrome são os mitos sobre os “Reais Programadores”. E não, não estou falando do amigo André Noel de arroba no twitter “@programadorreal”, estou me referindo àquelas frases como “Um Programador de Verdade (um Programador Real) ama programar” ou “Um Programador de Verdade não vê o código como um trabalho” e outras frases do tipo. O artigo de Julie Bort ainda propõe que parte dessa cultura seja imposta pela indústria a procura de mais produtividade. Eu ainda acrescento aquela comparação com a tal da cultura de True Nerd, ou seja, quando as pessoas se gabam de determinadas tarefas e as outras precisam fazê-las também para estarem dentro da onda.

No fim acaba em uma única coisa: transformando nós, pessoas, em robôs.

O estresse

Segundo especialistas, o estresse não é completamente ruim. Em fase inicial, ele dá ânimo, vigor e torna a pessoa mais produtiva. Porém, quando atinge níveis mais graves, pode desencadear problemas físicos e emocionais.

Ou seja, um pouquinho de stress é bom, nos dá ânimo, mas depois disso a produtividade cai, baixa a imunidade, aumenta a queda de cabelo, dá dermatite, bruxismo (ranger os dentes e em piores casos ficar com dor no maxilar), nervosismo, falta de atenção, problemas emocionais, depressão, além de outros problemas.

Mas veja bem: o stress não é totalmente ruim, no começo ele ajuda na produtividade, porém, há uma linha tênue entre a produtividade gerada pelo stress com a parte ruim (fadiga, exaustão, raiva, etc) como pode ver no gráfico abaixo fornecido pela: vistratess.com

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E o problema não é só ficar cansado ou nervoso, como já disse, pode acontecer de ter problemas de saúde. E ninguém quer isso, imagino.

Então saiba que deve ter um limite para seu estresse. Não se cobre tanto e nem queira se espelhar nos seus colegas, cada um é cada um. Procure tratar a Síndrome do Impostor dentro de você (talvez com ajuda terapêutica) e relaxe mais. Programadores não malucos são mais produtivos!

MayogaX

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Priscila Mayumi, também conhecida por MayogaX, é graduada em Análise de Sistemas, uma programadora e interessada em Data Science. Também é Microsoft Technical Audience Contributor.


20 Comentários

Jhonny Oliveira
1

Muito bom artigo, parece que está descrevendo os meus comportamentos.
Parei para refletir sobre minhas atitudes.

Leonardo
2

Excelente! Estava me encontrando na mesma posição, de não achar que sou produtivo o suficiente ou que tal pessoa tem mais excelência no que faz!
Após isso vou manter a calma para me portar de forma mais objetiva quanto a isso.

Heber Cinti
3

Considero este um dos artigos que melhor descreve nao somente programadores, mais a todos que trabalham na área de desenvolvimento.
Descobri que tenho a síndrome do impostor…rssss.
Parabéns!

wellington
4

Estou passando por isso tudo ai e mais algumas crises de ansiedade, resultado disso consultas ao psiquiatrias e alguns medicamentos. mas ja identifiquei o por que e estou maneirando, e olha que não sou programador , sou somente um profissional de infra.

Marcio
5

Não sei qual a idade de vocês, nem quanto tempo trabalham na área, mas eu corroboro com o artigo. Nós profissionais da área, (nem sei mais qual! TI, Informática, Proc. Dados, etc.), mas nós vamos morrer com esta síndrome (Impostor). Tudo isso porque nós não temos nenhum amparo profissional de órgão regulador. Isso mesmo! Um Conselho Regional de TI ou de Informática. Pois nós sempre estamos aquém das nossas expectativas, ou seja, nunca achamos que estamos bem profissionalmente. Por isso este nosso site PROCORETI significa em PROL do COnselho REgional de TI.
Porque precisamos criar nosso Conselho Regional e regulamentar
esta profissão de mais de meio século de existência possa ser regulamentada e não permitir que profissionais não qualificados possam deixar suas profissões de lado para aprender com apenas alguns “cursinhos” e invadir este mercado de trabalho oferecendo serviços a preços ridiculamente baixos e sem responsabilidade.
Qualquer dúvida [email protected]

guilherme
6

Muito bom o texto,
estou passando por isso agora, especialmente a parte do estresse e ansiedade…
me perguntando o que estava errado, com o texto ficou BEM mais claro…

K. Reis
7

Você está de parabéns! Eu nunca tinha visto esse assunto ser falado tão concisamente. Espero que ajude muitos profissionais!
Abração.

Hugo Santiago
8

Muito bom o artigo. Acredito que esse estresse ocorra mais com programadores generalizados, ou seja, aqueles que procuram estar por dentro de todas as tecnologias em alta no mercado. Tecnologia que as vezes não tem nada a ver com seu trabalho e seus objetivos futuros.
Acho que o melhor a fazer é focar num conhecimento especifico e procurar se especializar naquilo. Além disso, procurar separar momentos para si. Viajar, passear com a família, praticar um esporte, etc.

Tiago
9

Parabéns! Me encontro na situação descrita na Síndrome do Impostor, sempre se matando de estudar diariamente, cursos online, livros, muita leitura dos temas quentes da área sempre tentando ser mais completo e melhor, saber de tudo. Mas comecei a me desapontar e ficar meio ansioso e também triste, porque não consigo acompanhar tudo e porque também estou desempregado, o que me faz pensar que não sou bom o suficiente.
Me encaixo nesse quadro todo. Eu arranjei um hobby nos finais de semana ao ar livre, isso começou a me ajudar, a me deixar mais estabilizado e calmo, acho que parte do segredo é esse: não tornar a profissão de programador o objetivo único de nossas vidas: programar no trabalho, em casa, na folga etc…. Porque senão parece que tudo só se trata de trabalho.
E essa questão de generalista que o Hugo Santiago comentou é procedente, mas acho que isso é mais por demanda do mercado, que pede que você saiba back-end e front-end em desenvolvimento web, você tem que saber CSS e HTML, pra fazer a frente e o “core” da coisa, lógica, design patterns e afins…
Aí já posso começar a ver que talvez faça sentido haver um orgão regulador, como Marcio comentou.

Carlos
10

Ótimo artigo. Com a quantidade de comentários podemos ver que é algo comum em todas às áreas de TI.
A cobrança constante de termos foco, mas ao mesmo tempo de dominarmos várias vertentes na nossa área de TI, seja operacional, gerencial e técnica, causa ansiedade de querermos atender às expectativas que nos são impostas e que nós mesmos nos cobramos.Daí que surgem o strees e posteriormente a depressão.
Falta de regulação no setor de TI e de gerentes mais preparados, com foco mais em gestão de pessoas.

Ygor
13

Isso não acontece só com programadores não.. Existe muita “concorrência” na área de Infra tbm. E me vejo muito em todo o seu texto. Vamos tomar cuidado!

saulo venancio
14

muito bom, Priscila. Não li o artigo da primeira vez que vi o link. Mas agora que estou tendo sintomad do estresse por nao me sentir nunca bom o suficiene, me lembrei dele para ler.
precisamos conscientizar mais os profissionais de Ti que tudo tem limite.
eu estou procurando aprender o meu.
se nao vou enlouquecer.
saulo

Allan Marmo
15

Na reta final da entrega de um aplicativo PDV, comecei a ter dores de cabeça constantes e um formigamento na bochecha, procurei um pronto socorro, minha pressão estava ok, meus batimentos ok, então fui encaminha a fazer uma ressonância magnética da cabeça.
Bom, enfim, entrega dos resultados para o médico, o médico fez todos os exames visíveis e olhou o resultado, ele me disse que nos exames não tinha nenhum problema, o que eu tinha era ansiedade e Stress.
Então infelizmente não tive total controle da situação, hoje estou indo pescar e curti meu hobby de aeromodelismo com indicação do médico.

Jarbas
17

Isso tudo ainda aliado a cobrança familiar. É para levar qualquer um ao fundo do poço.
Sua matéria me fez cair na real. Muito obrigado!

Marcelo Rocha
18

Isto veio em boa hora.
Porém o problema no meu caso é amar programação, mas ter a sensação de que com este conhecimento o rendimento (em dinheiro) deveria ser muito superior.
A cada ligação, a cada suporte prestado, aquela tensão, que vai para a cabeça e chega a nublar a visão.
Nunca dei bola para o que a indústria diz, acho que estou a um passo antes do burnout.

Claudio
19

Olá!
Cheguei a este artigo pesquisando sobre a saúde dos profissionais de TI. Encontrei pouquíssimos sites sobre o assunto, ou seja, não é algo levado a sério. E a culpa é nossa!
Quantas vezes ficamos fora do horário, fizemos jornadas extensas devido a prazos curtos? E aceitamos isso como algo normal. Muitas vezes, ao falar sobre isso com colegas da profissão, somos tratados com desdém.
Por este motivo acredito que a regulamentação da profissão seja tão importante. Percebo que os que são contra normalmente são donos de empresas de sw ou algo do gênero. Isto inclui professores universitários que também são empresários do setor.
Vocês sabiam, por exemplo, que médicos tem expediente de 4 horas e, se passar disso, devem receber X vezes o valor do piso (que não é baixo)? Nossas profissões também deveriam ter estas limitações, dado o constante desgaste físico e intelectual. Mas ressaltando que limitações para o bem da saúde (principalmente mental), não para ganhar mais com horas extra.
Tenho um blog onde falo sobre a síndrome de burnout e outros assuntos relacionados à saúde mental (https://www.companheiradepressao.com.br) e, pesquisando sobre isto, percebi que há muitos profissionais de TI tendo problemas sérios, chegando a pensar até em suicídio. Mas isto não é levado a sério, infelizmente.
Profissionais de TI deveriam se unir e lugar pela regulamentação e principalmente pelas condições de trabalho.

Diego Rafael
20

A sensação é perturbadora e de impotência perante as novidades de nossa área. Quanto mais corremos para absorver novos conteúdos quase que de forma simultânea, menos saímos do lugar. Noites de sono perdidas, vontade de fazer muitas coisas ao mesmo tempo, e no serviço a mente já ta tão atormentada que a produtividade cai drasticamente. Sempre me pergunto se ainda devo permanecer na área de desenvolvimento ou vou pra outro caminho por achar que não pertenço ao lugar de trabalho!
Esse artigo veio completar oque já tinha lido sobre a Síndrome do Impostor, mas de forma direcionada para desenvolvedores.
Parabéns pelo artigo!

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