Caro leitor, após uma ausência prolongada, retomo a escrita com uma reflexão sobre o mercado de trabalho em Tecnologia da Informação nestes tempos de incertezas.
Todos nós sabemos que o país enfrenta uma crise política e econômica sem precedentes. E, como em toda a crise, vem os assim chamados “cortes de custos” das empresas, colocando novamente no mercado de trabalho centenas de profissionais qualificados.
A competição por uma vaga de emprego torna-se, portanto, acirrada e a própria empresa acaba por ampliar o número de requisitos ou usar da criatividade para a realização de intermináveis entrevistas e processos seletivos cada vez mais complicados.
Nem sempre um processo trabalhoso e burocrático irá determinar o melhor candidato. Com a fartura de profissionais em busca de recolocação, existe uma perspectiva muito triste: Todos merecem uma chance, mas, a empresa só pode oferecer uma vaga. O que torna o processo de seleção frustrante e desanimador para todos os envolvidos.
Então, fica uma pergunta: Como selecionar o profissional ideal? Se a tendência de instabilidade política do país continuar, em pouco tempo, o número de desempregados saltará para os quinze milhões, agravando assim, um quadro já pintado em cores sombrias.
Neste cenário pessimista, o profissional acaba aceitando qualquer oferta de emprego, pois, obviamente, precisa trabalhar, pagar suas contas e cuidar de sua família. Alguns empresários, diante deste panorama, adotam a política do “mais por menos”: Oferecem um salário menor por um profissional altamente qualificado, que em outras circunstâncias, jamais aceitaria a oferta.
Para disputar uma vaga de emprego em Tecnologia da Informação, e também em outras áreas, o candidato precisa apresentar um leque de conhecimentos, que, muitas vezes se mostra surreal e se sujeitar a receber um salário muito abaixo do mercado. Resultado: a empresa acaba contratando um profissional insatisfeito que irá abandonar o cargo e, consequentemente, o projeto, na primeira oportunidade. E assim, a empresa tem que selecionar outro candidato, que provavelmente irá permanecer por pouco tempo também, criando-se um eterno processo seletivo.
Este é um exemplo onde “o barato sai caro”. Como profissional de tecnologia, é importante saber quais são seus limites. Um salário muito abaixo do valor do mercado pode “salvar a situação momentaneamente”, porém, pode levar a meses de frustração em um emprego que você não se sente valorizado.
Anúncios de vagas com requisitos demais ou irreais, porém, com remuneração abaixo do mercado, podem acabar em atrasos e problemas de projeto para a empresa. Gerando projetos intermináveis, e um eterno processo de contratação, onde olha-se os custos diretos, como salários e benefícios, mas, não se percebe o escoamento financeiro do custo indireto, como atrasos e falhas de projetos.
É importante que o candidato, dentro das suas possibilidades, fique atento às remunerações ofertadas pelo mercado e mantenha sua pretensão salarial dentro da realidade das suas qualificações e da sua capacidade. Por outro lado, o empregador, deve ter em mente que uma economia inicial pagando ao funcionário uma remuneração abaixo do mercado pode resultar em uma série de prejuízos futuros e incontáveis problemas.
Por exemplo, imagine uma vaga que procure um Desenvolvedor JAVA, com experiência, para atuar em um projeto na empresa. No anúncio da vaga, a empresa coloca uma série de requisitos: Desenvolvedor JAVA, mínimo de 2 anos de experiência, conhecimentos em J2ME, jQuery, ASP.NET, PHP. Graduação completa. Inglês é um diferencial. Salário: R$ 1.500,00 e benefícios.
Um profissional com este conjunto de conhecimentos investiu muito dinheiro em sua formação e a empresa irá se beneficiar destes conhecimentos. Porém, a remuneração está muito abaixo do mercado. Qual perfil do candidato que a empresa espera contratar? Será que um desenvolvedor desta envergadura permanecerá muito tempo? Realmente vale a pena esta economia?
Uma boa relação entre empregado e empregador se constrói com confiança e seriedade. A equipe de trabalho forma a alma da empresa e toda crise passa. Um funcionário motivado e valorizado é mais produtivo e mais engajado com a empresa e dificilmente abandonará um projeto na primeira oportunidade.
Até a próxima.
Referências:
- Artigo: Estes são os salários no Brasil para 8 áreas de TI – Revista Info Exame (Outubro/2016)
- Tabela de Salários da Revista Info Exame (26 de outubro de 2016)
5 Comentários
Pelas ofertas de empregos que leio por ai, a maioria pede por um profissional “especialista em tudo” que já é improvável e ainda oferecendo um salario de estagiário. Isso é um desrespeito com o profissional de tecnologia, onde sem ele nenhum modelo de negocio sobrevive.
Triste realidade vivida por nós. Muitas empresas querem um funcionário com experiência de sênior para um cargo de júnior e com salário de estagiário.
Ótimo artigo, parabéns!
As empresas buscam uma qualificação cada vez maior e querendo pagar aquele profissional um salário de jn, ou seja, terá um profissional insatisfeito e que na primeira oportunidade de um algo melhor abandonará a empresa.
Ótimo artigo!
Muitas vezes os profissionais de RH não sabem o que querem e não sabem nem o que um profissional de tecnologia da informação faz, eles querem o “cara” que saiba tudo, e pagando pouco, nossa área não tem um teto que nem os cargos de engenharia e outros.