Há quatro anos realizei o meu mais audacioso e desafiador projeto, me tornei Mãe. Desse modo, eu segui as boas práticas para planejar a gestação da minha primogênita. Porém, como todo projeto, o plano sofreu mudanças 🙂
Eu morava no Rio de Janeiro em 2016 quando houve um surto de Zika vírus. Ao mesmo tempo, era algo a ser entendido com mais cautela pelos profissionais da saúde e as grávidas infectadas tinham maiores chances de terem seus bebês vitimados pela microcefalia. Por conta disto, a minha médica orientou que adiasse os planos para engravidar.
Então, aproveitei para investir na minha carreira, que já começava a dar indícios de que sofreria uma mudança de rumo.
Comecei a ministrar palestras, realizei minha formação em Coach, empreendi o meu serviço de mentoria e investi em autoconhecimento através da psicoterapia. Até que o surto da doença começou a diminuir e pude retomar o meu projeto de ser mãe.
Primeira mudança na carreira
Ao descobrir, em 2017, que estava grávida tinha se passado dois meses. Decidi pedir demissão para tirar um ano sabático materno. Sempre desejei ser Mãe e queria me dedicar a esse momento. Reavaliei as finanças, reorganizei minha agenda e investi no meu empreendimento de mentoria de carreira. No quinto mês de gestação fui diagnosticada com um quadro de alto risco e precisei diminuir drasticamente o meu tempo dedicado ao trabalho. Até que no último trimestre precisei parar de trabalhar por completo. Nesse momento, comecei a sentir que ser Mãe e não aceitar me limitar a esse papel era algo mal visto socialmente. As pessoas me julgavam por estar vivendo o luto de ter que abrir mão da minha atuação profissional por conta da gravidez. Era como se eu não tivesse o direito de sofrer por ter que escolher entre o trabalho e a maternidade.
Minha filha nasceu e antes do previsto estava novamente atuando enquanto mentora de modo remoto. Outro ponto de crítica por parte das pessoas. Eu maternava minha filha o dia inteiro e a madrugada também. Tendo estabelecida a rotina de sono dela, eu trabalhava a noite atendendo meus novos clientes. Comecei a sentir que a minha vida não estava alinhada com o que eu desejava para mim e minha filha. Foi quando optei em mudar de Estado e investir mais a fundo na minha transição de carreira, iniciei a minha faculdade de Psicologia.
Um novo papel, além de Mãe
Minha filha mais velha tinha 1 ano quando comecei a segunda faculdade. Logo no primeiro semestre identifiquei que queria atuar como docente. Sendo assim, além das horas dedicadas ao estudo regular, passava mais horas na universidade fazendo iniciação científica e extensão universitária. Eu estava feliz, mas claramente percebia nos comentários das pessoas que eu ia de encontro ao que a sociedade espera de uma mulher após se tornar Mãe. Eu queria ser além de Mãe, Psicóloga e isso querer demais.
Ano passado, no meio da faculdade, engravidei novamente. E outra vez, as pessoas me exigiam parar de querer ser algo além de Mãe. Oras, eu agora teria duas crianças para cuidar, como assim insistia no meu sonho de me tornar Psicóloga!?
Eu sobrevivi a uma gestação de alto risco, a imposição clínica de parar de trabalhar, a uma nova gestação durante a pandemia, a um segundo parto, a aulas remotas e hoje sigo convicta de que eu tenho todo o direito de querer ser outras identidades além de Mãe. Não há nada de errado nisso.
A minha carreira é algo muito significativo para mim, assim como a maternidade. Não tenho que escolher uma ou outra. Após me tornar Mãe meus conhecimentos sobre planejamento, priorização, gestão do tempo, comunicação, minhas habilidades interpessoais se tornaram mais ricas e fluentes. E aliadas ao conhecimento que adquiro com a Psicologia, me torno uma Gerente de Projetos mais humana, sensível às necessidades das pessoas que trabalham comigo, aprendi a ter uma escuta mais atenta para as demandas que identifico nas empresas. E todas essas vivências só fortalecem minha identidade profissional.
Carreira faz parte da vida
Embora poucos saibam, a expressão Curriculum vitae significa trajetória da vida. Ou seja, todas as situações das nossas vidas compõe quem somos. Portanto, pensar na vida profissional x pessoal não faz sentido. Afinal de contas, somos um ser único.
Esse texto é para dizer a você, colega, que pensa em ser Mãe e teme por sua carreira. Você tem todo o direito de ser Mãe e continuar a ser a profissional que você gosta de ser ou mudar completamente, se for da sua vontade.
A sociedade irá lhe exigir que escolha entre uma coisa ou outra. Contudo, quem decide no final é você!
O preço de conciliar maternidade e carreira é alto, sim, não vou negar. Apesar disso, encaro esse desafio como Nietzsche bem disse:
“Quem tem porquê viver, suporta quase qualquer como.”
Pense nisso.
Não permita que escolham por você. Descubro o seu porquê. Viva o seu propósito.