Estava eu de férias sem nada para fazer, quando comecei a circular pelos canais da TV a cabo. Em meio a fraca programação das TV’s me deparei com um seminário da Comissão de Ciência e Tecnologia na TV senado. Não me recordo do nome do seminário e nem das pessoas que falaram sobre os temas. Mas um dos temas me chamou muito a atenção: Que o governo brasileiro adotou o “Padrão de arquivos ODF” nos documentos oficiais.
Mas o que isso tem de mais? Tem, e bastante. Vou explicar o por que.
Não sou especialista no assunto, mas achei interessante compartilhar com vocês, caros leitores. Hoje, se o governo brasileiro utiliza os padrões Microsoft para salvar seus documentos, diz-se: .doc, .docx, .xls, .ppt., pps, .pdf, ele se obriga a utilizar o “Microsoft Office” como a suíte de documentos padrão, e consequentemente precisa utilizar os sistemas operacionais Windows da Microsoft pois, o Office até então só funciona no próprio Windows.
É correto deixar os documentos oficiais do governo dependentes de uma plataforma apenas? Se o governo decidir usar Linux, Mac ou outro sistema operacional que venha a aparecer, não poderão usar por causa da suíte de documentos?
Sabemos que o Open Office, por exemplo, lê arquivos .doc. e .docx. Já fizeram um teste se abre mesmo? No meu Ubuntu 8.10 com Open Office 2.4.1 até o dia 29/01/2009 ao menos não. Ainda um agravante, caso um dia a Microsoft venha a ruir ou os futuros “Microsoft Office’s” venham a não suportar arquivos .doc, como ficamos? Será necessário abrir cada arquivo .doc no Office 2007 ou futuros para converter? Teremos que comprar uma ferramenta da Microsoft ou outra empresa para converter nossos arquivos?
O OpenDocument format ou simplesmente ODF esta aí para acabar com esta dependência, e para termos certeza que os documentos criados hoje, poderão ser lidos sem problemas daqui a 10 ou 20 anos. Quem criou e mantém o ODF é um consórcio de empresas chamado OASIS.
Este padrão é totalmente aberto e livre de licenças, e por ser uma ISO é um padrão que pode ser estudado e tem que ser seguido. Segundo a Wikipédia “O ODF é um formato aberto e público e foi aprovado como norma ISO/IEC em Maio de 2006 (ISO/IEC 26 300)”.
Peço que façam um teste. Criem um arquivo no Open Office e salve como .ods. Depois renomeie para .zip e tente abrir o arquivo. Você verá que neste .zip existem vários arquivos, dentre eles alguns .xml. Abra o arquivo content.xml e verifique que todo o texto que você digitou estará lá. Portanto, temos certeza que facilmente os arquivos .ods poderão ser lidos por quaisquer programas.
O padrão ODF tem as seguintes extensões:
- .odt para documentos de texto (text)
- .ods para “folhas de cálculo” ou planilhas eletrônicas (spreadsheets)
- .odp para apresentações eletrônicas de diapositivos (presentations)
- .odg para imagens vetoriais (graphics)
- .odf para equações (formulae)
O objetivo do post não é ser contra ou a favor do uso do Microsoft Office pelos departamentos do governo, e sim, abrir os nossos olhos para algumas questões que às vezes não damos bola. A informática e a internet fazem parte das nossas vidas, assim como luz, telefone entre outros, por isso, é importante todos os esforços para que todos tenham acesso igualmente as informações, senão daqui a pouco estaremos criando algo do tipo “exclusão digital”.
Caros leitores. Espero ter me expressado bem sobre o assunto e que todos tenham captado o que eu quis passar, e estamos abertos a sugestões, críticas e discussões.
Um grande abraço
7 Comentários
A adoção do fomato ODF é um passo importante para o governo. Além do que você já citou, de que o OpenOffice não estar amarrado a um único sistema operacional, tem um ponto muito mais importante.
Sua informação não irá ficar refém do programa. Se a MS decidir que não vai mais suportar o formato .doc, e apenas .docx, e as futuras versões do MS Office deixaram de abrir o formato antigo, existirá uma grande mão de obra para migrar todos os documentos.
Como o ODF é um formato aberto, mesmo que o Open Office deixe de ser feito, eu poderei utilizar outra aplicação que suporte o formato, ou mesmo escrever seu próprio programa.
A sim, o Open Office lê docx sim. Boa parte da formatação se perde, mas a informação é salva.
Sobre Padrões definidos pelo governo. Bem… o que dizer da época em que tínhamos reserva de mercado, quando éramos obrigados a comprar determinados tipos de produtos em detrimento de outros? Foi bom ou foi ruim?
No caso, parece-me que o mercado preza por quem der o melhor retorno de investimento e assim, cabem aos concorrentes, trabalharem e trabalharem muito, para que possam ser escolhidos e ajudar aos seus escolhedores e terem os melhores resultados.
Já sobre a dica de renomear um arquivo para padrão .zip e poder ver o conteúdo, isto também vale para o padrão Office da Microsoft (2007 e 2010), já que o Office 2000 e 2003, é perfeitamente aberto por outras plataformas.
Por fim, sei que muitas são as dúvidas sobre o uso das ferramentas/aplicativos de TI e creio que o governo deve sim, prezar por desenvolver suas tecnologias, mesmo que em um primeiro momento não sejam eficientes. Mas se isto é verdade, o que dizer de todas as outras tecnologias que somos dependentes? Seria a reserva de padrões o melhor caminho, ou a transferência de tecnologia?
Boa reflexão para todos!