De tempos em tempos o universo da gestão organizacional se depara com mudanças de paradigmas significativos. É recorrente a publicação de livros que revolucionam a maneira de pensar dos gestores. A teoria sobre administração está em pleno desenvolvimento, desde o fim do século passado. Novos gurus surgem com crescente constância.
Algumas literaturas chegam e demonstram-se passageiras. Fazem parte de modismos inerentes à ebulição do mercado editorial. Outras, no entanto, realmente revolucionam as formas de pensar e agir dos administradores.
Foi assim com Kotler e sua nova visão de Marketing Integrado, cujos conceitos alicerçam as decisões até os dias de hoje. Kaplan e Norton, e seu “Balanced Scorecard”, viraram sinônimo de estratégia. Jack Welch trouxe um novo estilo de liderança. Michael Porter mostrou o poder da “vantagem competitiva” e Stephen Covey veio com seus 8 hábitos, entre inúmeros outros exemplos.
Toda publicação de novos temas, novas ferramentas e novas teorias tem a potencialidade de virar fenômeno. Toda novidade tem a possibilidade de aderir-se tão bem às necessidades, anseios e desafios das organizações que acabam transformando-se em pré-requisitos para uma gestão eficiente e eficaz.
O que diferencia as teorias que revolucionam as características dos gestores dos modismos passageiros é um misto de necessidade latente da sociedade, possibilidade de resolução de problemas modernos e capacidade de trazer resultados oriundos de processos pouco explorados.
Segundo David Norton (“O alinhamento em primeiro lugar”. HSM Management, maio de 2007), “… se uma ideia vem para ficar, ela tem de estar no momento certo e no local certo. No caso do Balanced Scorecard, o momento certo era o da nova economia – que, de alguma maneira, tornou obsoletos os sistemas de medição e gestão que usávamos, porque era como silos e hierárquicos, quando a nova economia exigia que você fosse holístico e transfuncional. E o lugar certo era o do sistema de medição. (…) Essas duas coisas se juntaram, e nós (Kaplan e Norton) tivemos a ideia de balancear indicadores financeiros e não-financeiros.”.
Exceções à parte, não sabemos quando surgirá a próxima teoria que irá alavancar a gestão organizacional, que trará inovações relevantes e significantes na área. Nunca sabemos qual será o próximo grande tema amplamente debatido pela sociedade mundial envolvida com gestão: muitos dizem que a próxima vedete será o RH, outros concordam que aperfeiçoamentos nas teorias sobre estratégia se fazem necessários, outros abordam que evoluções em TI serão responsáveis por novos modelos de gestão. Abordagem por processos, liderança, marketing, inteligência emocional: temas recorrentes abordados por estudiosos mundiais.
Atrevo-me a dar minha opinião sobre um dos próximos grandes temas a entrar na pauta. Inteligência Analítica. Acredito que este seja o momento certo para qualquer evolução neste sentido. E o primeiro passo já foi dado: Thomas Davenport, da Harward Business School, publicou “Competição Analítica – Vencendo através da Nova Ciência” (editora Elsevier), recém traduzido para o português.
Com o advento da informatização, a utilização de sistemas informatizados é pré-requisito para todo e qualquer tipo de organização. Softwares ERP’s passaram a ser constantes, comuns e presentes. E com eles, extensas bases de dados surgiram nas empresas. Informações que antes não existiam passaram a ficar disponíveis. A grande questão em evidência é: como o gestor deve utilizar toda esta base em prol do sucesso dos negócios? Qual a melhor maneira de analisar os dados? Como utilizá-los visando um incremento no sucesso da organização? Como as informações podem maximizar os resultados corporativos? Isso é inteligência analítica.
Davenport definiu Inteligência Analítica como “…a utilização extensiva de dados, análises quantitativas e estatísticas, modelos explicativos e preditivos e gestão baseada em fatos para orientar decisões e ações”. É a extração e entendimento amplo de tudo o que os dados disponíveis têm a nos dizer. É a interpretação e análise de informações de modo a nos permitir, de maneira objetiva e contundente, tomar decisões mais precisas, melhor embasadas e com maior probabilidade de acerto.
O autor analisou empresas americanas que adotaram posturas de vanguarda no assunto. Diversos exemplos bem sucedidos (e revolucionários) de inteligência analítica são abordados. São aplicações nos mais diversos processos que buscam, por meio da detalhada análise de dados e informações, maximizar a performance dos mesmos.
É demonstrado como as organizações vêm aplicando inteligência analítica em pricing, na análise financeira, em P&D, na gestão de operações, em RH, na atração e retenção de clientes, no relacionamento com o cliente, no relacionamento com fornecedores, etc. Empresas que se tornaram líderes em seu segmento devido à inteligência analítica.
Entre os cases analisados, incluem-se exemplos de empresas como Google, Amazon.com, Wal-Mart, Netflix, Procter & Gamble, Capital One, Harra’s, Boston Red Sox, FedEx, entre muitas outras.
Segundo Davenport, dois aspectos fundamentais precisam ser considerados na adoção da inteligência analítica: tecnológico e humano. Os dois devem caminhar juntos rumo à adoção de modelos de tomada de decisão baseados em evidências e constatações.
Não me estenderei em detalhes de suas abordagens, mas posso dar um testemunho pessoal: são inovadoras, altamente especializadas e com resultados confirmados. Com certeza, abrem portas para novos desenvolvimentos.
Para concluir: Inteligência Analítica se trata de uma necessidade bastante atual dos administradores, que demandam soluções inovadoras para seus processos decisórios e para a utilização otimizada de sua base de dados. Chegamos na “Era da Informação”, profetizada por Drucker. É certo que existe um potencial de incremento nos resultados operacionais a partir da utilização dos dados de maneira mais qualificada. O tema precisa evoluir e, para isso, demandará maior debate entre os estudiosos mundiais. E Davenport deu o primeiro passo. Aonde isso chegará? Só o tempo há de nos revelar.
por Rafael Scucuglia: Diretor de Operações da Gauss Consulting, empresa de consultoria instrumental e assessoria organizacional.