O responsável pelo sucesso de alguém é, sempre, o próprio alguém. Hoje mostraremos como um jovem estudante de TI abriu seu caminho para o sucesso a machadadas. Isso mesmo: machadadas. E não é metáfora.
No artigo anterior (O TI Oprimido), comentamos sobre as vantagens naturalmente conquistadas pelo esforço – ao contrário da postura de querer muito sem fazer por merecer.
Pois hoje, para ilustrar uma postura típica de quem está acostumado a se esforçar mais que a média, você conhecerá o Angatuba Boy.
A um primeiro olhar, Angatuba Boy nada mais é do que um jovem programador universitário do interior. Do interior do interior, convenhamos, pois Angatuba é uma cidade de menos de 30 mil habitantes cuja referência é Itapetininga, cuja referência é Sorocaba, cuja referência é São Paulo (cuja referência talvez seja Nova York, mas isso porque o povo é meio besta).
Tive o grande prazer de conhecer Angatuba Boy em uma entrevista de emprego. Na verdade, praticamente não foi uma entrevista, porque desde o início eu imaginei que seria muito difícil para ele trabalhar em Sorocaba, morar em Angatuba e estudar em Itapetininga, tudo no mesmo dia, cinco vezes na semana.
E por que você entrevistou o rapaz, Álvaro, iludindo-o com a promessa de um emprego se já sabia que não iria dar certo?
Mas eu não o iludi. Ao telefone, disse exatamente o que pensava a respeito da dificuldade logística mas que, ainda assim, desejava conhecê-lo devido ao que ele apresentava no currículo (já falamos, em artigo anterior, sobre currículos que chamam atenção, lembra?). Tanto que até paguei a passagem para que minha curiosidade não representasse custos ao jovem rapaz.
Mas chega de lero-lero. Com vocês, Angatuba Boy!
Obs.: Para eu não ter que contratar Angatuba Boy por um salário muito alto no futuro, evitarei inflar muito seu ego citando somente duas ocasiões onde ele demonstrou que o esforço extra é a marca dos que desejam vencer.
Ocasião 1: o módulo do ERP
Angatuba Boy já trabalhou em uma grande empresa que usava um grande ERP. Um dos módulos do sistema, porém, se mostrava mais complexo do que poderia ser. Diante desse cenário, e desejando o aprimoramento da ferramenta em uso, Angatuba Boy vai lá e programa ele mesmo um módulo alternativo (coisa de macho).
Infelizmente – para a empresa, é claro – ele se desligou antes de ter a chance de demonstrar a ferramenta e somente um seleto grupo de pessoas, no qual eu me incluo, pôde dar uma espiada nela.
O que teriam feito outras pessoas? Ficariam reclamando eternamente do ERP, iniciando todas as semanas a rezar para que chegasse logo a sexta-feira e elas pudessem mandar o ERP para aquele lugar.
Ocasião 2: sai da frente do meu sinal
Em nossa entrevista/conversa, Angatuba Boy me disse que era programador web. Chegou a me mostrar uns dois sites que havia desenvolvido, de forma independente ou colaborativa, e o resultado não era nada ruim.
Veio a minha mente uma intuição e, sem qualquer preconceito (juro), perguntei a ele se a Internet onde ele morava era boa o suficiente para ele desenvolver seu trabalho, especificamente em se tratando de ferramentas web.
O início da resposta mostra que minha intuição não anda mal: “Então, Álvaro, você precisa entender que eu não moro simplesmente em Angatuba, mas em um sítio em Angatuba…”
Resumindo: Angatuba Boy dispõe de 600k de velocidade para trabalhar com web.
Diz aí: o cara é macho ou o quê? Chuck Norris que se cuide…
Então você vai argumentar que muitas pessoas possuem conexão de 1 mega e que é quase a mesma coisa e blá blá blá. Concordo. Eu mesmo tenho uma conexão de 1 mega na minha casa e dá bem para o gasto. Mas não é aí que reside o mérito de Angatuba Boy.
A única conexão que alcança o doce lar de nosso herói é um link de 600k via rádio – sistema que, na opinião, é o pior de que se tem notícia. Na prática, e principalmente se estiver meio nublado, podemos imaginar que a velocidade média final é muito menor do que a especificada.
Então você argumenta que, ao menos, ele tem alguma coisa e que sofrer com alguma coisa ainda é melhor que nada. E eu concordo. Mas não é aí que reside o mérito de Angatuba Boy.
O que você precisa saber é que ele praticamente construiu seu acesso ao poderoso link de rádio. Sim, porque, inicialmente, nenhum sinal chegava até lá devido a uma barreira de vegetação no entorno de sua residência, o que não foi barreira suficiente para o nosso semi-ecológico herói que, munido de um machado, abriu uma clareira por onde o sinal pôde, finalmente, despejar sua fartura de quilobytes.
Macho? Macho nada. O cara é o Conan. Vê só o machado…
Toque de humor à parte, declaro que todo o conteúdo desse artigo é absolutamente real. Para você ter uma ideia, antes da publicação eu o submeti este texto ao nosso herói para ele apontar qualquer incongruência na minha narrativa e o que você tem diante dos olhos é o resultado dessa aprovação.
Que o ímpeto desbravador de Angatuba Boy nos sirva como inspiração para enfrentarmos com mais resiliência as dificuldades do dia a dia com os nossos links de 50 mega via fibra ótica.
Pense nisso.
2 Comentários
🙂 legal mesmo o artigo
Sinceramente, o cara realmente é esforçado demais porem…nossa realizada em grandes cidades como São Paulo capital não representa nem justifica nenhum pouco o que acontece em nosso meio.
Hoje grandes empresas de desenvolvimento ganham muito, muito, muito dinheiro de seus clientes, gastam muito 1x com impostos e ainda lucram muito, muito. Entretendo, somente 1 terço de um muito que lucram retornam ao empregado como salário, sendo que quem proporciona esses lucros é principalmente o desenvolvedor que sou suspeito a falar mais é o coração de qualquer empresa de desenvolvimento ou serviços relacionados a desenvolvimento.
Angatuba Boy é um cara muito bom, mais para sua realidade. Se Angatuba Boy vivesse em São Paulo Capital por exemplo, não adianta ser somente esforçado, isso ele já deveria ter a obrigação de ser o que interessa e as principais reclamações são o dinheiro que pagam a bons profissionais pois afinal de contas todos precisam de dinheiro para sobreviver.
Portanto, as reclamações sobre o TI oprimido continuam, a desvalorização tanto dos bons profissionais como até mesmo daqueles não tão bons assim mais com grande potencial continuam a ser exploradas na cara dura.
O que as empresas e alguns programadores não entendem é que…o programador sem a empresa continua sendo um programador, o cara pode trabalhar com freelas, desenvolver um projeto pessoal e ganhar com isso em fim varias coisas. Agora as empresas sem programadores o que será que acontece? acredito que muitos dos donos de soft-house não sabem se quer o que é uma linha de código.
Existe profissionais supervalorizados, sim tem caras que se supervalorizam mais geralmente quando não alcançam os resultados esperados são dispensados.
acho que donos de empresas deveriam parar e pensar um pouco sobre se é justo o quanto eles pagam a seus funcionários, olhar a média de mercado e pagar isso é um sedativo para seu próprio egoismo e ganância pois muitos sabem o quanto lucram e o quanto poderiam pagar alem da média.