Desenvolvimento Ágil realmente funciona?

Eu assumo que sou um grande entusiasta em Desenvolvimento Ágil.

Desde a época do curso superior, venho estudando as vantagens, restrições, condições e a reação das empresas em relação às metodologias ágeis.

Algumas vezes, ao acompanhar discussões no LinkedIn e em alguns blogs, me deparo com uma questão abrangente: Desenvolvimento Ágil realmente funciona?

Pois bem, por conta disso, o objetivo deste artigo é trazer a minha singela contribuição para essa questão.

Antes de entrar diretamente no assunto, reflita a frase abaixo:

“Do que adianta comprar um carro se a pessoa não sabe dirigir?”

A essa altura, provavelmente você já deve ter compreendido o sentido, não é? No mundo ágil, poderíamos idealizar uma pergunta semelhante:

“Do que adianta empregar o Desenvolvimento Ágil se a empresa não está preparada?”

Da mesma forma que uma pessoa é ensinada a dirigir antes de manobrar um carro, uma empresa também deve ser orientada a ser ágil antes de empregar o Desenvolvimento Ágil. Neste ponto, seria mais adequado utilizar a palavra maturidade. Uma equipe deve ser madura o suficiente para compreender que o Desenvolvimento Ágil é, acima de tudo, uma quebra de paradigmas na cultura de trabalho.

Traduzindo em realidade, o gestor de uma empresa não pode simplesmente chamar toda a equipe de desenvolvimento no final de uma tarde e dizer: “Pessoal, a partir de amanhã, utilizaremos Desenvolvimento Ágil!”. Se isso ocorrer, no dia seguinte todos tentarão trabalhar duas vezes mais rápido, sacrificando o horário de almoço e saindo três horas mais tarde da empresa.

Para eles, agilidade literalmente é ser ágil, e não é bem assim! Esse tipo de ideia é um dos fatores que criam as restrições da adoção do Desenvolvimento Ágil no mercado de software. Acredite: não há mágica ou milagre nas metodologias ágeis, então não espere que as receitas da empresa dupliquem ou tripliquem de um mês para o outro só porque a equipe se tornou “ágil”.

Desenvolvimento Ágil implica em seu nome a capacidade de ser comunicativo, colaborativo e centralizado. Se a equipe souber entregar valor e entregar com frequência, automaticamente será ágil. Observe que “ágil”, neste contexto, não significa acelerar a velocidade das implementações, mas transformar a forma como elas são conduzidas, focando mais as interações e habilidades do que processos formais. Para isso, o Scrum, uma das metodologias ágeis mais populares, trouxe o conceito de Sprints, que permitem a entrega frequente de incrementos do software em prazos previamente definidos.

A respeito das equipes, o Desenvolvimento Ágil somente funciona em ambientes altamente colaborativos e comunicativos. Enquanto uma equipe for individualista e limitada, esqueça Desenvolvimento Ágil, não vai funcionar. A comunicação deve ser intensa, com interfaces bem definidas e regidas por um bom Scrum Master. Este, por sua vez, deve ter conhecimentos sólidos em liderança, responsabilidade e experiência na regra de negócio. Só para efeito de conhecimento, em uma discussão recente no LinkedIn, um membro perguntou quais seriam as características adequadas de um bom Scrum Master. Uma das mais respostas que mais me chamou atenção dizia que um Scrum Master não deve ter apenas qualidades profissionais, mas também pessoais, e que isso muitas vezes dificultava a alocação da pessoa adequada para este papel. Sem dúvidas, este é um desafio!

Outro ponto importante do Desenvolvimento Ágil é a arte do feedback. Por meio da colaboração constante com o cliente final, é possível determinar os pontos positivos e negativos, prioridades e expectativas do projeto em prazos curtos, ou seja, a cada Sprint! Isso evita “surpresas” quando o produto final for entregue ao cliente. Logo, empresas que têm um espírito forte em Desenvolvimento em Cascata (Waterfall) não vão conseguir se adequar ao Desenvolvimento Ágil com facilidade.

Em conclusão, a minha humilde resposta para o título deste artigo é: depende!

Depende do quão a empresa é madura no sentido de colaboração e comunicação. Depende da definição coerente dos papéis de Scrum Master, Product Owner e Development Team. Depende do nível de resistência ou aceitação dos colaboradores ao trabalhar em uma nova cultura de trabalho. Depende da conscientização da equipe em relação aos artefatos dos métodos ágeis. Depende da flexibilidade e adaptabilidade dos líderes. E, talvez, o mais importante: depende do quanto a empresa está empenhada em obter resultados com o Desenvolvimento Ágil, independente do tempo necessário.

Porém, o que mais me intriga depois de estudar as restrições do Desenvolvimento Ágil é a atitude de algumas empresas (ou profissionais) em desvalorizar a metodologia simplesmente pelo fato de não trazer os resultados esperados, ou melhor, pelo fato de não saber como ela funciona. Analogicamente, é o mesmo que uma pessoa comprar um smartphone, não conseguir utilizá-lo e denegrir a imagem do aparelho nas redes sociais por esse motivo. Certamente, se uma pessoa com habilidade em smartphones comprasse o mesmo aparelho, saberia utilizá-lo sem problemas. Em outras palavras, é evidente que a falta de conhecimento leva ao insucesso com a metodologia, naturalmente.

Desenvolvimento Ágil não é um produto que se compra em uma loja de informática. É um conceito! O sucesso depende da preparação, do empenho e da maturidade da equipe como um todo.

Obrigado pela visita, leitores. Abraço!

Publicado originalmente no blog André Celestino

André Celestino

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Desenvolvedor de software há 7 anos e autor do blog AndreCelestino.com. Graduado em Sistemas de Informação e pós-graduado em Engenharia e Arquitetura de Software com ênfase em Desenvolvimento Ágil. Atualmente trabalha como Engenheiro de Software.


6 Comentários

Bruno
1

André, parabéns pelo texto. Quando vi o título, fiquei com o pé atrás, mas foi uma grata surpresa.
Concordo contigo que é necessário que os profissionais envolvidos na adoção do agile estejam preparados. Porém, há mais uma categoria de pessoas que xingam o agile: Aqueles que tem medo, especialmente os gerentes de projeto. Por não conseguirem se ver ou se adequar ao cargo de scrum master, tentam ao máximo sabotar a adoção do agile. Postura lamentável, porém comum.

Alesson
2

André, parabéns cara. Como nosso amigo Bruno logo acima, eu também fiquei apreensivo quanto a sua resposta. Entretanto devo dizer que gostei.
Vou ainda mais afundo, por dizer que não há uma paradigma sobre qual metodologia utilizar. Tanto o desenvolvimento ágil quanto os métodos convencionais, são muito úteis. E como você disse só “depende” do que a empresa ‘necessita’. Necessidade acho que é o foco, muitas empresas querem maximizar os lucros, jobs e etc. Porém o que necessitam é só de uma melhor estratégia de desenvolvimento, e não de uma mudança geral. Porém quando uma empresa conseguir unir o Scrum por exemplo ao pmbook, tenho certeza que conseguirá maximizar os lucros, sem colocar a empresa em risco de um colapso interno ou externo.
PS: Nunca é bom colocar um gerente de projeto como Scrum masters da empresa. Não vai ficar legal kkkk

Andrey Kurka
3

Boa percepção! Infelizmente são poucas empresas que se dispõem a implantar o Scrum como uma proposta real e clara. Pequenas dicas como nomear pessoas com grande know-how a serem Product Owners, não destacar alguém da TI para ser o Scrum Master e sim contratar alguém certificado para a tarefa, enfim, detalhes que acabam acelerando o processo de maturidade da organização. Eu estive muito perto de abrir mão de fornecer consultoria de implantação do Scrum, mas vejo que, aos poucos, as empresas estão encarando melhor a situação e aderindo ao Scrum.

André Luis Celestino
4

Pessoal, muito obrigado por deixarem suas opiniões e também por complementarem o contexto do artigo.
Concordo com a visão de vocês principalmente sobre o fato das restrições que cercam a adoção do Desenvolvimento Ágil. Acredito que não só a equipe deve ter a maturidade necessária, mas também toda a administração deve estar envolvida no processo de implantação de uma metodologia ágil na cultura de trabalho. Além disso, muitos ainda questionam a compatibilidade do Desenvolvimento Ágil com outros instrumentos da engenharia de software, como Mps.BR, CMMI, PMBoK e ITIL, quando, na verdade, se bem definida, a metodologia pode aumentar a eficiência dessas práticas.

Marcelo L. Barros
5

Excelente percepção! O grande erro das empresas é esquecer que mudar para ágil significa mudar totalmente sua cultura. Não é simplesmente institucionalizar um modelo e esperar que as pessoas o usem! Fantástico! parabéns!

André Luis Celestino
6

Opa, muito obrigado pelo comentário, Marcelo!
Concordo plenamente com o que você disse: para se tornar ágil, é preciso mudar a cultura organizacional! É aí que muitas empresas escorregam ao adotar o Agile.
Grande abraço!

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