Cursar uma faculdade faz diferença para muitas pessoas. Se a faculdade for boa, melhor ainda. Mas tem gente que não fez faculdade e prosperou mais do que quem fez. Qual seria o melhor caminho?
Não só pelo prazer de marcar superior completo ao preencher uma ficha de inscrição, mas fazer uma faculdade é algo muito proveitoso.
Por exemplo, é a primeira vez (exceto se você já tiver feito um curso técnico) que seu conhecimento escolar será orientado para um fim específico – a sua futura profissão – ao contrário do que acontecia no pré-vestibular, onde você aprendia tanto a fatorar polinômios de grau n quanto a diferenciar platelmintos de anelídeos.
Outro fator positivo é o formato dos “trabalhos de escola”. Você faz mais atividades em campo (sai às ruas), e seu grupo começa a mostrar certa semelhança com o futuro departamento da empresa onde você trabalhará.
Ou seja, é um treino e tanto. E mesmo que conheçamos histórias de pessoas – em geral, empresários – que triunfaram sem muito se dedicar à educação formal, parece senso comum que esta situação é mais a exceção que a regra e, a não ser que você seja um gênio ou tenha muita sorte, o melhor mesmo é estudar.
Tendo esses últimos parágrafos contribuído para reconhecermos a vantagem de fazer uma faculdade versus não fazê-la, passemos agora a examinar se a escolha da faculdade X versus a faculdade Y poderá fazer diferença para o seu futuro profissional.
Visto que minha formação se deu em Comunicação e Marketing, por prudência e mesmo por incompetência não vou, aqui, recomendar esse ou aquele curso de TI. Mas algumas passagens da minha história universitária talvez possam nos ajudar a ampliar esta reflexão.
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Quando, no então terceiro colegial, devaneava eu, aquele pós-adolescente imberbe, sobre qual faculdade faria, havia muito mais dúvidas que certezas. Por sorte eu conhecia bem o que eu não queria fazer e isso me ajudou a escolher meu curso superior quase que por eliminatória.
Decidida a área, comecei a pensar que eu teria mais chances no mercado de trabalho se caprichasse na escolha; em outras palavras, se cursasse a melhor faculdade possível. Orientado pelos professores, lancei-me a estudar para passar naquela e somente naquela faculdade. Um indício desse foco na qualidade foi a opção (para desespero dos meus pais, inclusive) de prestar a prova somente para aquela instituição.
Graças a Deus, passei. E escapei de ser deserdado.
Tempos depois, já formado, embora ainda imberbe talvez por uma condição genética qualquer, recebi uma pesquisa relativamente extensa da escola. Inicialmente tomado por um certo egoísmo e querendo proteger o meu tempo mais do que os interesses da escola, pensei em ignorar a pesquisa. Mas, então, li uma frase para lá de persuasiva, que dizia, com outras palavras, algo mais ou menos assim:
“Queremos que você responda essa pesquisa para melhorarmos continuamente e permanecermos no topo. Lá na frente, quando você disser que se formou nesta escola, vai querer que ela tenha se transformado em uma instituição decadente e ultrapassada? Não, né? Então responde a pesquisa aí, mané.”
Movido ainda pelo mesmo egoísmo, só que agora revestido de cândida solicitude, respondi a pesquisa em sua totalidade.
Mas, Álvaro, há alguma evidência de que isso realmente faça diferença? Até agora parece que você está só puxando o saco da escola…
Acredite, não estou, e eis uma declaração de um ex-professor para figurar como essa evidência que você está solicitando:
“Vocês não sabem como é lá fora, como os recrutadores analisam os currículos. Eu tenho contato com presidentes de empresa, pessoal de RH e é assim que funciona: quando eles precisam de alguém da área de vocês, eles fazem duas pilhas de currículos, a primeira com os currículos de alunos desta instituição e outra com os currículos dos alunos de todas as outras instituições. Somente se eles não encontrarem nada na primeira pilha é que eles olham a segunda.”
Essa declaração – talvez um pouco exagerada, de fato – deve ser entendida menos como uma forma arrogante de dizer “eu pertenço a essa pilha aqui” e mais como um indicador de como o mercado se comporta na hora de contratar profissionais.
Basta você se colocar no lugar do recrutador e imaginar que ele não conhece o candidato a fundo e tampouco terá tempo para conhecê-lo a fundo antes de contratá-lo. O recrutador precisa de ferramentas para diminuir suas chances de erro na contratação e a reconhecida qualidade da instituição onde o candidato estuda ou estudou é uma dessas ferramentas.
E não pense você que estou querendo “valorizar meu passe” com tudo isso. O mérito não é meu, é da escola. Repare que eu não disse “currículos de pessoas que se chamam Álvaro em uma pilha e o resto em outra”. Não sou eu a questão, mas a faculdade. É ela que está fazendo a diferença e essa é, precisamente, a resposta à pergunta que dá título a esse artigo.
Pense nisso.
IMPORTANTE: Você não precisa perder as esperanças se não conseguiu fazer uma faculdade ou se não fez aquela que gostaria. Profissionais oriundos de escolas de prestígio também são recusados em processos seletivos. E, se empregados, também são demitidos ou ganham salários ruins. Repare que nossa pergunta-tema é simples: “Faz diferença?”. E a resposta também é simples: “Faz.”. Mas é só isso: faz diferença. E fazer diferença está muito longe de ser garantia.
9 Comentários
Eu preciso urgentemente fazer um curso superior… rsrsr. Perdi uma oportunidade de crescimento profissional onde trabalho simplesmente por ter apenas o curso técnico em informática e não um superior. E para tal vaga eu tenho o conhecimento necessário.
Se a pessoa tem dificuldade de se colocar melhor no trabalho só porque não tem um superior imagino e acredito que a instituição faça muita diferença.
Para quem trabalha de carteira assinada, vale a pena sim ter o curso superior para alcançar cargos maiores. Mas para que trabalha ou pretende trabalhar montando seu próprio negocio, o nível superior é quase invalido, pois o que irá requerer mesmo é o conhecimento na área, sendo importante sim tirar algumas certificações que te darão um maior no hall.
Tenho 80 anos, Aposentado por invalidez INSS, trabalhei mais de 20 anos em duas CEASAS,Recife e Aracaju fui Gerente de Mercado com diversos cursos na área de abastecimento de Hotfrutigranjeiros,fiquei deficiente Auditivo aos 45 anos no trabalho perdi muita oportunidade de melhor remuneração por não ter curso superior, agora estou terminando a graduação em Pedagogia. Vale a pena?
Grande amigo Alvaro, falou tudo em seu texto e principalmente no seu ultimo paragrafo.
Infelizmente o curso superior dita muita regra ainda no país, mas querendo ou não um curso superior serve para abrir os horizontes de muita gente, eu inclusive. Infelizmente não pude fazer um curso antes por vários fatores, mas hoje estou fazendo e por pior que seja a instituição, os professores ajudam a criar uma nova mentalidade sobre o mercado de trabalho, por mais know-how que tenho ou outra pessoa possa ter, dentro de um curso superior de TI aprendemos a buscar a qualidade do serviço que pretendemos prestar. Creio que a Instituição Educacional que a pessoa vá optar em frequentar é um passo muito importante, pois querendo ou não existe o peso do nome. Mas se a pessoa possui vontade de aprender e crescer, já pode procurar outras formas de trilhar seu caminho, fazendo pós-graduação, mestrado e no meio tempo fazendo certificações específicas nas áreas de seu interesse.
Olá, Edilson,
Seu comentário é uma inspiração para mim. Com 80 anos, aposentado por invalidez e terminando a graduação em psicologia? É claro que vale a pena, meu amigo, especialmente pela área escolhida. Você está aprendendo a ensinar. E com sua experiência, tenho certeza de que há muito o que aprender com você.
Não pare.
Apesar de estar formado há mais de 15 anos, a genética ainda faz de mim um imberbe permanente (sou asiático). Sou uma quimera ambulante, porque não tenho canudo de faculdade de TI, mas sim de engenharia química. Porém, de renome, o que provavelmente coloca os recrutadores em um dilema: ponho este cidadão na pilha boa ou na pilha ruim? Parentes me dizem que, por não ter formação na área, eu estou sempre fadado aos piores empregos… O que você acha, Álvaro? Obrigado pela beleza e clareza de expressão!
Olá, Marcelo,
Agradeço por seu elogio.
Para pensar um pouco na sua questão, olho para o meu próprio exemplo aqui no PTI. Eu não tenho formação na área de TI e a contribuição que acabo conseguindo oferecer com meus textos é justamente por ter um “outro olhar”. Talvez, se eu tivesse formação na área, meus textos seriam mais técnicos e acrescentariam pouco ao grande universo de materiais de qualidade que este portal já traz ao pessoal de TI.
Você, como engenheiro químico, talvez seja a melhor opção para trabalhar na TI de uma empresa… química. Você pode entender piadas nos corredores sobre anéis de benzeno que um TI regular não entenderia. Com isso, pode mais facilmente fazer parte do círculo de convício de decisores dentro da empresa (a maior parte deles químicos, e não TI) e isso pode impactar na sua ascensão profissional.
Não estou dizendo que seja garantia de nada, mas este é um convite para pensar um pouco fora dos padrões. Eu nunca me formei em TI, mas trabalhei por 5 anos em uma empresa nessa área fazendo todas as outras funções que o pessoal de TI não fazia (comercial, financeiro, RH). É uma espécie de milagre interdepartamental apoiado em uma única questão: a geração de valor.
Você acha consegue gerar algum valor, por mais inusitado que possa ser? Se a resposta for sim, há mercado para você e a geração de valor certamente importará mais do que a sua área de formação.
Definitivamente não.
Somente é uma prerrogativa para alguns cargos, nada a mais. Não desmerecendo quem fez ou faz, isso jamais. E nem incentivando a não estudarem. Mas no nosso ramo, e tecnologia, a faculdade nada mais é que somente a “fagulha de fogo quando pega no estopim” e abre algumas portas que não se abririam se não estivesse fazendo.
Na minha área eu valorizo conhecimento no que se faz e chao percorrido, do que diplomas.
Um Abraço.
Ola Álvaro Deus oh abençoe, sou formado em Engenharia Química, tenho 38 anos e sou aposentado por invalidez, me aposentei no decorrer da faculdade e hoje sou engenheiro químico e faço inglês mas gostaria de voltar ao mercado de trabalho gosto muito de trabalhar na industria sou apaixonado mas mesmo com uma restrição consigo trabalhar pois só não posso exercer uma função que exija peso…você acha que eu possa ter uma oportunidade, quero trabalhar poder aplicar meu conhecimento teórico e também pratico para ajudar e varias melhorias. Gostaria de uma opinião sua pois procurei na internet assuntos de ou algum exemplo de pessoas que se aposentaram por invalidez e que tiveram alguma formação e voltaram ao mercado de trabalho mas não encontrei.