Após o anterior artigo-release, repetimos a dose abordando o mesmo assunto da democratização da Internet, agora sob uma ótica complementar e analisando possíveis consequências para o futuro.
No artigo anterior – A Cauda Longa – dissemos que Chris Anderson, editor-chefe da Wired, escreveu um livro muito interessante. Pois, após esse primeiro, ele escreveu outro, chamado “FREE – o futuro dos preços” (na tradução brasileira, é claro).
Não buscarei o compromisso de neste artigo citar somente o segundo livro e evitar o primeiro, pois os assuntos estão muito interconectados para fazermos essa distinção (ou eu estou buscando um jeito de me isentar caso faça confusão).
A ERA DA INFORMAÇÃO… JÁ ERA.
Antes do Google, vivíamos a Era da (busca e disputa pela) Informação. Agora, você há de convir, informação não é mais o problema. Está tudo no Google. Até porque, o que não está no Google as pessoas não têm paciência de procurar em outro lugar, então, é como se não existisse mesmo.
O problema é que a Internet aceita tudo e, com isso, além de muita coisa boa, há, como dissemos no artigo anterior, muito lixo. Mas é muito lixo mesmo.
O novo desafio, portanto, está na seleção do que é efetivamente bom no meio de todo esse conteúdo. E o Google, que possui alguma verba para investir em algumas coisas, há muito tempo já sacou isso e está promovendo uma revolução silenciosa com sua “rede social” (é até uma ofensa chamá-la assim) Google Plus.
– Conte-me mais, Álvaro, sobre toda essa malignidade.
Embora oficialmente extinto pelo grupo, o Google Authorship vale uma pesquisa e uma reflexão, pois se o programa está extinto, o objetivo a que ele se propõe jamais esteve tão em voga na Internet. Aliás, será que ele está realmente extinto ou foi apenas declarado extinto?
– Desembucha, Álvaro.
Exatamente porque você não quer saber de lixo, o Google também não quer saber de indicar lixo para você, e por uma razão muito simples: você começaria a não mais utilizá-lo para procurar as coisas. Aí, de repente, o natimorto Bing poderia pensar em abrir as asas e, não é segredo para ninguém, assim como o Google, a Microsoft também tem um pouco de dinheiro e talvez se sentisse encorajada a estimular o desenvolvimento de seu bebê.
Ao manter relevantes os conteúdos indicados a você, o Google mantém a hegemonia. E, para saber o que é relevante ou não, ele deixa as próprias pessoas “votarem”. Para isso, o Google observa a quantidade de “+1” nos conteúdos que você publica. E ele sabe que você publicou se você relacionar o conteúdo ao seu perfil no Google Plus.
Por exemplo, se você recebe muitos “+1” por sua expertise em TI, quando resolver escrever sobre palmito de pupunha e alguém procurar por esse termo no Google, você será levado em séria consideração na hora de o Google exibir os resultados, visto que é uma pessoa que normalmente agrada com seu conteúdo, já que recebe tantos “+1”.
Obs.: Não preciso dizer que este artigo está devidamente relacionado ao meu perfil no Google Plus, preciso?
E isso é o que está, aos poucos, tomando o lugar da era da informação: a era da reputação. Como diz a turma do Copyblogger, quem manda na Internet é quem produz conteúdo. E, se você não tem fama e dinheiro para produzir um grande hit praticamente instantâneo (como a Beyoncé) aos poucos, com qualidade e a ajuda de alguns “+1” relacionados ao seu conteúdo, você constrói sua reputação e vai se tornando o rei da Cauda Longa. Não que seja um Rei do Camarote, mas estará no caminho certo.
NÃO É MAIS FUTURO, É PRESENTE.
Pesquisas apontam que atualmente é grande – e continua crescendo – o percentual de pessoas que, antes de comprar um produto ou um serviço, buscam primeiro informações sobre outras pessoas que já passaram por aquela experiência para ver as opiniões delas. Não raro, essas opiniões influenciam dramaticamente o processo de compra, mesmo que os testemunhais obtidos sejam de completos desconhecidos.
Nos resultados dessas tais pesquisas encontrei, inclusive, um quadro muito interessante sobre a eficiência dos diversos meios de divulgação e quem encabeça a lista são as “recomendações de pessoas que conheço”, seguidas, logo atrás, das “recomendações de pessoas que eu não conheço”. Essas duas categorias juntas inspiram mais confiança nos consumidores que várias outras reunidas, entre as quais as tradicionais mídias que conhecemos como anúncios em jornais, revistas, televisão, outdoor e na própria Internet.
Como resume esta conclusão do estudo: hoje em dia, quando navegam na internet, os consumidores não procuram anúncios de lojas; eles estão em busca de depoimentos de outros consumidores sobre estas lojas.
Vemos essa tendência também nas contratações profissionais realizadas pelas empresas. Uma vez que você é “o produto que ela está comprando”, é natural e esperado que elas busquem informações sobre você e, nesse caso, seu currículo funciona como a propaganda na TV ou no outdoor, nas quais as pessoas aprenderam, aos poucos, a não confiar muito. Indo além dessa casca, as empresas aprofundam suas investigações com pesquisas no LinkedIn, e mesmo no Facebook (para ver se o candidato não é muito asno na vida pessoal).
FINALIZANDO…
Não é que os grandes hits não existam mais, afinal, falamos sobre uma Cauda Longa, não sobre um bicho que só tem rabo. A curva no gráfico possui sim a “cabeça”, o local onde a grana rola alto e a fama precedente potencializa o sucesso seguinte em um ciclo quase eterno (como a Beyoncé). Nessa parte do gráfico – a cabeça – ainda é o dinheiro que manda.
Mas, como já dissemos, os grandes hits não são mais o único biscoito no pacote e os pobres porém limpinhos vão conseguindo ampliar o seu espaço com base em acertos sucessivos, que levam a indicações, ao boca a boca, à divulgação espontânea em blogs etc. E nessa parte do gráfico – a cauda – é a reputação que manda.
Talvez, e com muita maldade metafórico-testosterônica, poderíamos sintetizar dizendo que a curva da distribuição do conteúdo na Internet se assemelha a uma moça muito sensual e interesseira: dinheiro na cabeça, reputação na cauda.
Pense nisso.
1 Comentários
Ótimo artigo !
A idéia da reputação basicamente é uma adaptação, direcionamento do que o Google já havia sacado quando o engine de busca ainda era um projeto acadêmico, onde a ideia é que a Internet promove um concurso constante de indicações, ou seja, inicialmente o mecanismo de busca da Google baseava-se no quantidade referência que site fazia a outro, o que de certa é semelhante ao complementar processo de renovação de popularidade/credibilidade que o conteúdo recebe com o “+1”