Tenho visto diversos artigos dedicados às absurdas exigências para vagas de tecnologia. Exige-se demais e paga-se pouco. Este tem sido o assunto do momento nos canais de discussão para profissionais de TI e chega a ser preocupante.
Comentei um artigo no Profissionais TI (PTI), que tratava exatamente esta questão. Inclusive o autor citou algo interessante sobre meritocracia para justificar um estagiário com salário de R$ 4 mil. Nada contra pagar este valor para um estagiário, principalmente se ele é competente e agrega valores à empresa, mas não faz sentido manter este profissional sendo estagiário. Faça a promoção! Então este ponto ficou furado, na minha opinião.
Conhecendo “ontem” para compreender “hoje”
Para que possamos compreender nossa atual situação é necessário conhecer a história. Neste caso não precisamos retroceder tanto assim, mas compreender um período importante para os profissionais de TI que foi o nascimento desta categoria. Não muito longe, surgiram pessoas importantíssimas como Steve Jobs e Bill Gates. Estes caras, junto com seus amigos, foram responsáveis por uma verdadeira revolução, popularizando a tecnologia e permitindo que computadores pudessem chegar às mãos de pessoas além dos laboratórios das universidades e grandes empresas. Surgiram os computadores pessoais ou mais conhecidos como PC (Personal Computer).
A cada ano que passava, mais pessoas tinham acesso aos computadores de uso doméstico e criou-se uma nova perspectiva na sociedade. O que fazer com um computador? Nasce, então, o mito da “profissão do futuro”, que seria a mais bem paga do planeta. Surge nosso primeiro grande erro: confundir “dominar a informática” com “profissionais da informática”.
Revistas semanais eram publicadas com trechos de códigos de programas como se fossem receitas de bolos. Nas bancas e livrarias, um público ansiando por ser este profissional do futuro e ganhar muito dinheiro, deixaram suas formações originais (administradores de empresas, advogados, contadores, farmacêuticos, médicos, etc…) para encontrar seu espaço como programadores autônomos. Estes programadores encontraram, por sua vez, empresas e comércios querendo fazer uso de sistemas para automatizar seus negócios. Isto acabou gerando um ciclo vicioso, caro e traumático para quem desejasse implementar um sistema de computador.
Uma leva enorme de pseudo-profissionais estava no mercado sem conseguir garantir a qualidade do produto que criavam. Problemas surgiam sem soluções imediatas. Com isto, empresas passaram a investir cada vez mais em profissionais de tecnologia e rotular esta área como a mais cara do mercado. Mas era cara porque investia-se muito em retrabalhos, correções, novas soluções… Empresários e comerciantes ficaram reféns dos maus profissionais de TI.
Amadurecimento da TI
A tecnologia passou por diversas transformações. Cursos, carreiras, novos direcionamentos surgiram e passou-se a ter mais organização. Surgiram novos segmentos para formar diferentes especialistas na área de TI. Infinidades de normatizações e documentações surgiram para dar respaldo ao contratante e ao contratado. Verdadeiros mediadores surgiram e ser um profissional de TI passou a ser algo tão burocrático que projetos passaram a custar ainda mais com a justificativa de serem mais assertivos. A área de TI passou a contar com mais especialidades, surgiram organizações regulamentadoras para projetos, metodologias e, no final deste complexo ecossistema, lá estão os programadores.
Na minha opinião pecamos pelo excesso de cuidados devido aos traumas de um crescimento desordenado da área de TI, mas estamos conseguindo chegar, aos poucos, em um meio termo bem razoável. A área de TI hoje é dividida basicamente em infraestrutura e programação. Dentro destes dois grandes grupos temos os especialistas e generalistas que interagem com as áreas de negócios que utilizam os sistemas.
As faculdades passaram a preparar melhor o profissional e hoje enxergamos a preocupação de algumas instituições de ensino em filosofar menos sobre teorias e preparar mais o profissional para as necessidades reais do mercado.
Um novo horizonte
Agora discutimos algo mais importante e que, na minha opinião, é fundamental para o sucesso da TI nas próximas décadas. Inserir o aluno do Ensino Fundamental no aprendizado de lógica da programação. Pode soar um exagero para muitos, mas a lógica de programação nada mais é do que estimular o cérebro humano a trabalhar rapidamente com tomada de decisões, uma vez que ensinamos um equipamento burro a “resolver problemas”. Isto traz grandes benefícios não somente para os futuros profissionais de TI, mas para qualquer ser humano, independente da profissão que venha a escolher. É comprovado que profissionais de TI possuem um raciocínio mas rápido do que a média e tomam decisões complexas com mais facilidade e menos riscos de erros.
Outro ponto importante é que a tendência seja que qualquer pessoa esteja apta a programar, assim como aprender outro idioma. Já vem acontecendo com profissionais que utilizam planilhas de cálculos avançadas, criando verdadeiros sistemas programando macros. É uma linguagem como qualquer outra.
Chegando ao recomeço
Agora que você conhece um pouco da história e das tendências em tecnologia, vamos tratar do grande problema mencionado no começo deste artigo: as exigências absurdas por uma remuneração medíocre.
Empresas com um qualificado gestor de TI e que realmente conhece TI, não cometerão a gafe de abrir vagas exigindo tantas tecnologias diferentes pagando tão pouco. Muitas vezes a empresa precisa apenas de um profissional recém formado e com domínio de uma linguagem de programação específica. Este profissional não custará alto para a empresa e o mesmo trabalhará satisfeito porque o investimento que ele gastou para isto foi mínimo. Por outro lado, a empresa pode precisar de um profissional mais experiente em uma determinada ferramenta e terá que desembolsar um pouco mais para pagar o que é justo.
Mas somente um bom gestor de TI é capaz de identificar as lacunas existentes e preenche-las corretamente com os profissionais adequados. Caso contrário, acontecerá o que muitos vêm apontando que são as vagas exigindo tantos conhecimentos em graus de experiência tão elevados que o profissional, para atender estas exigências, deveria ter 20 anos de carreira em TI. No entanto, a vaga remunera como se fosse um recém formado. Por quê isto vem acontecendo?
Simples. Por que estas empresas não sabem contratar. Por que estas empresas não têm um profissional que realmente entenda as tecnologias aplicadas na empresa e, consequentemente, para não errar na contratação, saem pedindo toda a sopa de letrinhas que encontram no vasto mercado de TI. O resultado são péssimas contratações, profissionais insatisfeitos, produção baixa e alto turn-over. Então, por onde começar?
Começar pelo alicerce. Toda empresa precisa ter alguém que tenha a capacidade de identificar as reais necessidades tecnológicas da empresa e contratar as pessoas que atendam especificamente estes requisitos técnicos. Caso a empresa não tenha estrutura para manter um gestor de TI competente, então que busque um gestor de TI para fazer esta consultoria e montar uma equipe adequada. A consultoria certamente trará um excelente custo-benefício e, com o passar do tempo, a vaga de gestor de TI será necessária para que a empresa, cada vez mais dependente da TI, esteja preparada para atender e competir no mercado em que atua.
Tem sido gratificante, por onde passo, aplicar estes conhecimentos e ver, no decorrer de 1 ano, o alto rendimento da empresa no segmento em que atua. A tecnologia bem aplicada é um fator determinante para oferecer um serviço ou produto diferenciado, seja qual for o segmento.
Referência: Blog Andrey Kurka
8 Comentários
Falou tudo agora, Andrey Kurka é bem por essa linha mesmo!
Obrigado Ivanei!
Não vejo outra saída a não ser esta, colocando as empresas em um cenário real de contratação. Infelizmente isto acontece à medida em que cada empresa “desperta” para o problema que vem ocorrendo e mesmo assim às vezes não encontram um gestor de TI despretensioso… É preciso ter o empreendedorismo de TI à flor da pele e estar consciente de que deve arrumar a TI da empresa e passar para outra, em vez de querer criar “garantias de emprego”… Esta maldita mania que alguns têm em querer ser insubstituíveis acaba com a nossa imagem no mercado.
Gostei muito do seu artigo acho que é bem isso, a valorização é necessária, bem como “pessoas” capacitadas para trabalhar mas para isso precisa sim ter um gerenciamento na área. ou ja viram por exemplo um gerente contratar um vendedor que não sabe vender?.
parabéns pelo artigo.
Grande texto!!!
Disse tudo. Parabéns
VAGA DE EMPREGO, contrata-se programador: Com sólidos e árduos conhecimentos em JAVA, PHP, PYTON, DELPHI XE5, C#, .net. Profundos conhecimentos em Oracle 11G e SQL Server, Experiência comprovada em analise de sistemas, ser pro ativo, dinâmico, saber trabalhar em equipe, cumprir prazos e metas, trabalhar sempre contente e feliz(igual aquelas pessoas de propaganda de margarina). É necessário pós graduação em Gestão de Projetos, ITI e COBIT é indispensável. Experiência em sistema ERP, RH, WMS, e chão de fabrica, desenvolvimento WEB e mobile(IOS, Android, Wphone).
Ter Formação no Exterior e inglês fluente será um diferencial.
Enviar currículo para nossa empresa terceirizada de recrutamento, para analise de curriculo e dinâmica de grupo.
Salário: R$ 1.200,00+Produtividade Mínima+Benefícios(Passe + Cesta básica)
OBS.: Não pode ficar olhando pro rabo da secretária !!!
ótimo texto! Você foi claro e objetivo!
Vejo o grande problema se exatamente a falta de informação das empresas sobre o que é e como funciona uma boa gestão de TI, e, principalmente, entender que nenhuma empresa hoje permanece viva sem um bom profissional que caminhe lado a lado com a empresa, entendendo suas necessidades atuais e seus objetivos futuros. A TI tem de “servir” à empresa, dando suporte tecnológico para a manutenção dos negócios e possibilitando o crescimento.
Por outro lado vejo que a falta de um órgão regulamentador da profissão de TI, algo emperrado nas nossas “Casas de Leis” há anos, impede que haja uma segmentação adequada das profissões e uma tabela de cargos e salários digna.
Vai ver se você contrata um engenheiro pra fazer qualquer coisa pagando menos que o piso do CREA?
Outro problema é a falta de orientação dos empresários quanto aos investimentos de TI. Pensa-se em tudo pra abrir uma empresa: logomarca, faxada, marketing, a cor do porcelanato, detalhes modernos do gesso, a planta das salas, qtde de funcionários, etc. O espaço que SOBRA debaixo da escada, aliado ao valor que SOBRA dos investimentos chega na sua mão com a seguinte frase: MONTA UMA REDE PRA MIM!!!! COLOCA OS SERVIDORES AQUI DEBAIXO!!! SE VIRA!!!
Enquanto o pensamento sobre infraestrutura por parte dos empresários (falo disso porque sou dessa área) continuar sendo “o que sobra” (o valor que sobra pra adquirir o parque e contratar o profissional ou a empresa gestora, o espaço que sobra pra montar o Data Center, etc) vamos continuar com esses problemas!
Ótimo texto! Parabéns!
Não gostei do texto. Contou uma historinha que não fa muito sentido e no final colocou a culpa no RH das empresas, como se o problema fosse apenas as muitas exigências, quando na verdade o problema maior é a remuneração pífia e a prostituição do mercado.