Estou cansado de ler comentários que tentam justificar o fato de alguém sair da graduação sem saber nada. Na verdade, “saber nada” é uma expressão muito forte. Eu diria que a maioria procura culpados por terminar a graduação sem estar preparado para o mercado de trabalho.
Antes de ler este artigo, gostaria de pedir um pouco mais do seu tempo para ler outros dois artigos que relaciono abaixo e que motivaram a escrever este novo artigo:
Bem, se você leu estes artigos, então está municiado para continuarmos. Vamos lá…
Afinal, quem são os responsáveis?
Muitos podem ser responsáveis por uma catástrofe como esta. Você cursar uma graduação por anos e, após a formatura, chegar à conclusão de que não está preparado ou sabe “nada”?
O primeiro artigo deixa muito claro esta questão dos culpados, onde:
- Você mesmo pode ser o único responsável. Escolheu o curso errado e se manteve por comodismo. Matou aulas e passou a maior parte do tempo se divertindo. Se formou nas costas dos colegas, copiando trabalhos e obtendo notas mínimas. Não foi curioso e dedicado o suficiente para ir além do proposto pelo professor. Foi um aluno que reclamava de tudo para se isentar da culpa do fracasso. Foi displicente. Deu pouca importância. Ficou com o notebook aberto o tempo todo nas redes sociais e conversando com amigos ou até mesmo resolvendo problemas do trabalho na sala de aula;
- O curso é responsável. Foi mal projetado. Composto por disciplinas ultrapassadas ou que não acrescentam conteúdo relevante ao aluno que busca esta formação. As disciplinas não estão integradas. A ementa não é bem elaborada. Referências bibliográficas são ruins ou antigas;
- Instituição de ensino é responsável. Pela má contratação de profissionais. Pela adoção de políticas inadequadas ao ensino moderno. Por manter uma infraestrutura deficitária. Pelo preenchimento de janelas com professores que não dominam a disciplina;
- Professores são responsáveis. Profissionais despreparados e que não dominam o conteúdo. Professores que conhecem muito o assunto mas não possuem didática. Professores que, simplesmente, não cumprem o Plano de Ensino e aplicam o conteúdo que lhe convém. Professores que não gostam do que fazem e estão na sala de aula apenas fazendo um “bico” para ter uma renda complementar, faltando com o comprometimento e ética para com os alunos;
Enfim, pode ser um destes itens ou todos, não importa. A questão abordada pelo primeiro artigo é clara e sua primeira publicação foi feita em 2009. O segundo artigo que recomendei foi publicado recentemente, agora em 2015 e reforça a ideia de que os problemas continuam acontecendo. Sem que haja uma completa reestruturação no ensino, milhares de alunos despreparados serão despejados no mercado.
Comentários infelizes
Pior do que constatar a atual situação do ensino, é ler os comentários. Alguns defendem a ilusão de que a graduação é generalista, não forma o profissional e que o “doutorado” existe para isso. Esta afirmação é absurda! Quem escreve isso não sabe para que serve um doutorado ou defende uma posição confortável! Quer dizer que as faculdades formam milhares de generalistas que não conseguem sequer seguir uma carreira dentro do que estudaram? Isso é desculpa de incompetente!
Ouvi algo muito semelhante de um professor do curso Pronatec, dizendo que o curso não formaria um profissional capaz de programar, que é tudo muito superficial e todo conteúdo técnico mais especializado seria dado apenas na graduação.
Um momento, vamos pensar… Se a graduação já está classificada como generalista, então somente teremos técnicos onde? No Mestrado? No Doutorado?
Vamos parar de inventar desculpas. Falando na formação técnica de Redes (Ensino Médio), quando houver um problema na rede física, a empresa vai chamar quem? Um Doutor? Claro que não! Vai chamar um técnico! Agora falando na formação de Informática (Ensino Médio), vão contratar um programador Doutor para codificar? Claro que não! Vão chamar um técnico!
Por isso continuo dizendo que passou da hora de reformular todo ensino. Claro que isso não significa que tudo esteja errado. Conheço professores que compartilham deste pensamento e que fazem um trabalho fantástico dentro da sala de aula, coordenando cursos, enfim, tornando melhor a qualidade do ensino. Mas há muito o que ser feito em uma escala ainda maior.
Não vou repetir o que escrevi em artigos anteriores, mas o professor da sala de aula, antes de ser um professor, precisa ter sido um profissional muito experiente para ter a capacidade e segurança de repassar o conhecimento “certificado” e testado no dia a dia. Fora isso, são apenas teorias e um amontoado de material a ser decorado.
Uma formação predadora
Até poderia ser tema de filme! Mas uma formação predadora, como o próprio nome sugere, forma os indivíduos que terão destaque no mercado de trabalho. São aqueles profissionais mais desejados e bem pagos. São os profissionais que ganham 5 vezes mais do que a média mas resolvem problemas em 1/10 do tempo médio.
Agora vocês devem se perguntar como formar estes profissionais? Será necessário ser um gênio? Serão necessários quantos anos para formar este indivíduo?
Eu digo com absoluta tranquilidade que estes profissionais podem ser formados até o final do Ensino Médio. A graduação seria a especialização da carreira escolhida.
Qual o segredo? Nada além de dedicação e seriedade, tanto dos alunos quanto dos professores. A Educação Lógica é apenas uma parte desta reestruturação do ensino. A escola têm o dever de esclarecer a mente dos alunos e abrir janelas para que cada um tenha a capacidade de fazer suas escolhas conscientes.
Não acredito na educação que não seja integral até o término do Ensino Médio. Lição de casa é inútil e apenas cria uma obrigação chata na vida do aluno. Assim como trazer serviço para casa, trazer as obrigações da escola não é interessante. Por isso defendo a educação em período integral. Disciplinas convencionais aplicadas com uma nova didática que desperte no aluno o interesse em desenvolver qualquer ciência. Que permita ao aluno encontrar aplicações para estas ciências nas diversas áreas existentes e, consequentemente, o surgimento da afinidade por uma destas áreas quando há o mergulho nas disciplinas técnicas.
Oportunidade para todos
Minha grande preocupação hoje é pensar em como oferecer esta formação para todos de uma maneira igual. Manter profissionais altamente qualificados dentro de uma sala de aula passando suas experiências e utilizar infraestrutura adequada exige muito investimento. Muitas pessoas poderiam pagar por esta educação mas para levar esta mesma qualidade a pessoas de menor poder aquisitivo, somente com a ajuda de grandes empresas que compartilhem desta preocupação. Afinal, quanto mais pessoas com esta formação, mais profissionais capacitados no mercado e maior a produtividade, inclusive destas empresas que investem.
O projeto existe e completamente viável. Por enquanto somos pequenos fazendo nossa parte, mas espero o dia em que os reforços cheguem para tornar este projeto algo bom para todos. Como seriam estas bolsas de estudo? Este é o segredo do sucesso… Nada de provas ou ordem de chegada… Um dia eu conto.
Fonte: Blog Andrey Kurka
13 Comentários
Assim, uma das coisas que eu aprendi foi que a universidade te apresenta os conteúdos, cabe a gente se especializar e por a mão na massa. Sim, existem problemas, mas conheço ótimos profissionais que sequer passaram pela graduação das profissões que atuam. Gênios? Não, apenas pessoas com vontade de aprender. Existe uma coisa chamada bibliografia relacionada, que as pessoas deveriam se inteirar e se aprofundar para o assunto que lhes interessam. Deveriam estudar e ter opinião crítica… Nas como vão fazer isso se reclamam até dos slides que têm que ler? Desculpas….
Falando de graduação, Juliana, sim, o aluno precisa ter esta pro-atividade em buscar mais informações sobre o conteúdo dado em sala de aula, mas também é dever do professor estar preparado tecnicamente e didaticamente para tornar as aulas mais produtivas. Cada aluno tem um perfil diferente e o professor precisa ter os recursos necessários para atingir as expectativas dos alunos.
Agora tratando do ensino desde o Fundamental I, se houver o preparo correto dos alunos, consequentemente, terão uma postura completamente diferenciada. Exatamente como me refiro à “formação predadora”.
Uma pessoa pode nascer “gênio” ou se tornar um durante o caminho. Tudo vai depender dos estímulos.
Acredito que por isso os cursos tecnológicos estão cada vez mais em alta. Pensa em um profissional bacharel em sistemas de informação e um outro tecnólogo em sistemas ou tecnólogo em redes e por aí vai… Os tecnólogos saem com muito mais “experiência” uma vez que esses cursos fazem os alunos porem a “mão na massa” ao invés de despejar teorias sobre “um monte de coisas”. Outro dia li uma monografia, se não me engano de especialização em uma federal do Paraná, o aluno pesquisou sobre o mercado de trabalho e constatou a preferência das empresas por esses profissionais tecnólogos. Segundo ele, as empresas optam por esses profissionais por serem “especialistas” em determinada área.
Obs: Sempre considerando que existem “profissionais e profissionais”, e “universidades e universidades”.
No momento estou na metade da graduação de Ciência da Computação, quando iniciei estava muito empolgado e disposto a estudar de tudo, achei incrível como a maioria dos professores nos desmotivavam. Da pra contar nos dedos de uma mão os professores que realmente entendiam o seu papel ali, muitos deles ou eram anti-sociais, ou muito inteligentes com uma didática horrível, ou ficavam se bajulando pela sua formação, ou passavam trabalhos sem graça, ou eram desatualizados, ou estavam despreparados…e por ai vai. Não estou dizendo que todos os alunos são angelicais, pois haviam aqueles que estavam ali sem interesse, mas eu acho que ser um professor, vai muito além do que uma profissão remunerada e muitos deles não entendem isso.
Luan, o problema que vejo é, por muitas vezes, o EGO do professor ser maior do que a sua capacidade de transmitir o conhecimento. Outros estão lá apenas para faturar uma renda complementar e não estão preocupados com as consequências de um trabalho ruim. Outros ainda se esforçam, mas não têm experiência suficiente e acabam largados pela coordenação do curso que se preocupa em não deixar janelas vagas no curso.
Falta muita coisa a ser feita e, sinceramente, não consigo ver uma melhora significativa a curto prazo, principalmente se tudo continuar como está. Hoje estou estudando a possibilidade de abrir uma instituição de ensino mas a burocracia só não consegue ser maior do que o investimento financeiro necessário.
Entendo que não basta mudar os professores apenas, mas a cabeça de quem coordena define como as coisas caminham dentro de uma instituição de ensino.
As instituições de ensino, são na verdade negócios, onde o lucro é visto acima de qualquer coisa, no mais puro capitalismo. Se um aluno sai hoje, haverão mais 10 amanhã para a vaga aberta, é a oferta X procura.
Nós profissionais que buscamos qualificação, temos que ter maior foco e força de vontade acima de qualquer obstáculo, com um único objetivo, se tornar um profissional cada vez mais preparado para o mercado.
As universidades deveriam preparar o aluno diretamente para o mercado de trabalho, mas para isso, é preciso investimento em infraestrutura para que seja possível simular ambientes reais, profissionais qualificados, conforme mencionado no texto, para que possam lecionar uma aula produtiva e agregadora. O “x” da questão é o conflito em se ter lucro ou investir para oferecer um serviço de qualidade. As instituições públicas, também estão defasadas, não é difícil termos notícias da precariedade em que se encontram os campus. Poucas instituições particulares oferecem graduação de alta qualidade, mas os seus preços também são altos e muitos assim como eu, não possuem condições de arcar com os custos.
Para finalizar minha humilde opinião sobre o texto, que foi muito bem abordado por você Andrey, a graduação não torna ninguém especialista, mas abre um leque de opções e uma visão real para que o aluno decida qual caminho seguir. Temos que reclamar sim, mas também temos que fazer a nossa parte para chegarmos aos nossos objetivos, lembrem-se no pain no gain.
Andrey, primeiramente, boa tarde:
Segundo tudo que li, é um reflexo de como funciona o sistema educacional brasileiro, que começa por uma instituição FALIDA chamada MEC, que determina o que cada etapa deve fazer, começando pela primeira fase da educação fundamental, porque na educação primária (creches), a criança começa a ser estimulada a aprender e não somente “brincar e limpar bunda de bebê” como muitos pregam por aí. Infelizmente é interessante a nossos políticos que a educação fique assim, pois eles poderão nos manipular mais facilmente, uma vez que desconhecemos nossos direitos e desconhecemos nossos conhecimentos que poderiam ser maior. Abrangendo o assunto, há também alunos que avacalham as coisas, inclusive na graduação, ou curiosamente, não são poucos os casos de alunos que vivem mais “no bar” que na sala de aula. Também temos professores de péssima didática, como eu vivi nos tempos de minha graduação e professores que desestimulam a pesquisa, algo que não deveria acontecer na graduação, uma vez que dali sairíamos profissionais de uma determinada área ao qual escolhemos, logo, deveríamos saber como é o mercado dela em sala. Por outro lado, as instituições ficam presas e reféns do MEC e do comodismo, além da lucratividade de ter alunos e recursos financeiros entrando em seus caixas, abordando sobre o fato de instituições ficarem presas ao MEC, prova disso é o ENADE, que possui provas obsoletas e de conteúdo desatualizado na maioria das áreas. Tudo isso forma o que é a educação brasileira hoje, um ótimo negócio pra quem cria uma creche, ensino fundamental e médio, além de faculdades e universidades, pelo fato de professor e educador ser desvalorizado e desestimumado porque recebe pouco, além de explorado como se fosse uma mercadoria.
Marcos Arley,
Você está correto. O MEC está falido. Na verdade é realmente de interesse do atual governo que os alunos sejam mantidos até um determinado nível de conhecimento. A nova cultura estabelecida que eu chamo da “cultura na boquinha da garrafa” desestruturou os jovens a partir das preferências musicais. O que houve com os jovens que cantavam as letras de Titãs, Legião, Capital, Nenhum de Nós, Barão… Agora é só funk e apelação sexual… Vai tentar conversar com estes jovens… parece até outro idioma.
Infelizmente a burocracia para se abrir uma escola é gigantesca e temos que seguir a cartilha medíocre do MEC, mas se pensarmos nesta cartilha como algo básico, podemos oferecer qualquer coisa extra. Este conteúdo extra é que entra a nova metodologia. Assim não ficamos reféns do MEC e podemos elevar o nível de ensino.
Estou trabalhando arduamente em algumas escolas mas o ideal seria conseguir fundar uma escola própria para implantar integralmente este conceito.
Abraço!
Excelente suas colocações corajosas. Acrescento que o Brasil é o país de quem não quer saber e sim passar de ano ou ser funcionário público.
Existem muitas pessoas que conheço que são mestres ou doutores e não sabem nada, pois só estudaram.
Além desse time, tem o time que faz mestrado e doutorado para passar em concurso e ficar dando aula em entidades governamentais……ou seja, buscam o serviço público para se garantirem.
Vamos fazer um paralelo com algo recente que está acontecendo agora no país. Você já viu a grande quantidade de mestres e doutores que temos?
Pois é…..estão todos dentro de salas de aula ou de laboratórios, gastando nosso dinheiro de impostos sem terem o gerenciamento adequado de seus projetos, que se derem resultados, tudo bem, mas se não derem também, tudo bem.
E as empresas precisando de pessoas com conhecimentos para apoiá-los. Seria a parceria perfeita….conhecimento teórico aliado ao conhecimento prático. Mas pergunta quem é o doutor que quer se submeter ao mercado de trabalho formal e suas regras?
Mais um exemplo que estamos vivendo AGORA…….essa onda de ser contra a terceirização em empresas do governo. Sabem quem defende isso? Pois é, os concursseiros de plantão que querem se encostar em um emprego estável. E tem mais…..ALGUNS concursos têm exames de decoreba que não medem nada a respeito do candidato para o exercício do cargo que vai ocupar……..desse jeito vai mal………e as pessoas ainda me pedem para ser otimista.
Muito bem Roberto, por estes motivos e mais outra lista de tantos outros eu não gosto de trabalhar com órgão público. Não gosto de associar minha imagem a qualquer coisa governamental. Acho que um funcionário público deveria ser demitido da mesma maneira como acontece em empresas privadas. Eu já prestei consultoria para repartições públicas e o bom funcionário acaba sendo contaminado. Tudo fica nas costas de quem quer trabalhar e isto acaba desmotivando e fazendo com que ele passe a fazer como os demais.
Gosto da empresa privada, da competição leal de intelecto e competência. Gosto de ambientes altamente produtivos. Consequentemente, a boa remuneração vêm. Ninguém ocioso dura muito tempo nestes ambientes.
A educação parte do mesmo princípio. O ensino público está falido. Acredito que o ensino público deveria ser terceirizado também. Toda escola particular teria um percentual de bolsas mantidas por repasse do governo. Não teríamos greves e a educação seria levada a sério.
Falei recentemente em um congresso a respeito disso, em como melhorar o ensino e fazer com que o adolescente seja formado pelo Ensino Médio em condições competitivas para o mercado de trabalho e a graduação seria uma especialização da sua carreira. Mestres e Doutores continuam em suas respectivas vidas acadêmicas, zelando pela melhoria contínua da qualidade do ensino.
Mude as regras do jogo e retire a garantia de emprego do funcionalismo público e vai ver como as coisas melhoram.
Abraço!
Mude o título da sua página pois é o pior que já vi neste site.
Você fala de generalista de uma maneira incorreta talvez por sua falta de experiência em TI ou no mercado.
Se o assunto e formação acadêmica fale no título sobre formação acadêmica não sobre profissionais que por opção não querem se especializar e trabalhar em consultoria a baixo custo.
Adriano,
Primeiro, que não é uma página, e sim um ARTIGO.
Segundo, que o artigo passou por uma revisão e moderação, portanto está ok.
Terceiro, que você pode ter uma formação generalista sim, que é o que mais existe nos atuais cursos de graduação em tecnologia. Se quer se especializar, faça uma pós-graduação (o que eu descordo neste artigo).
Quarto, que quem não quer se especializar em nada, não almeja uma carreira promissora.
Quinto, que tenho 22 anos de experiência no mercado, sendo que 22 são em TI. Talvez falte interpretação de texto para você ler e compreender o artigo. Sendo assim, seu problema não é TI…
Por último, seu comentário não agrega nada ao artigo.
O conteúdo da graduação ajuda sim. Mas é inocência achar que só por que você tirou notas boas em tudo, vai cair no mercado arrasando. Fazer estágios e buscar a prática é bem melhor do que focar só na teoria.