Não há muito tempo, havia burocracia, uma série de procedimentos para que um site ou aplicação fosse colocado em produção. Reuniões sem fim, definições de necessidades de infraestrutura, cabeamento, alocação de servidores em racks, configuração de switches e roteadores, instalação e configuração de sistema operacional e softwares necessários, liberações de acessos, configuração de monitoramento etc. E estava pronto somente o ambiente de desenvolvimento.
Até digo que essa vida era divertida, mas muito repetitiva e limitante, pois qualquer ação poderia tomar várias horas do dia (ou até dias) enquanto os analistas e especialistas ficavam privados da melhor parte: desenvolvimento.
Então houve a invasão, no grande mercado, da virtualização e dos softwares de gestão centralizada de configurações. A vida ficava mais leve e ainda mais divertida, tudo ficava mais ágil e prazeroso. Agora pensava-se em levar a automação a novos níveis. E a partir disso surge o conceito de cloud.
Maravilha! O trabalho de dias fora reduzido a cliques ou códigos, dando a liberdade para que os próprios desenvolvedores pudessem gerenciar seus ambientes. Mas e toda aquela tropa de infraestrutura? Qual seria, agora, a diversão desses profissionais?
Resultado: mais automação. Ao contrário do que muitos gestores e colegas de trabalho anteriormente pensavam, essa multidão de profissionais também se desenvolve em programação. E daí, então, aconteceu o inevitável: as próprias infraestruturas de cloud foram automatizadas.
Os analistas de infraestrutura, agora, passam a viver a vida de outras formas. Embora o lado físico da coisa pouco tenha mudado, infraestrutura lógica agora é somente um serviço, parece agora ter uma capacidade infinita de transformação. E é exatamente nesse ponto que o mercado de infraestrutura passa a ser um mutante.
O problema é o mesmo de sempre: nem todos acompanham as mudanças. Só que dessa vez, quem não acompanhou ficou fadado a uma morte lenta e silenciosa. Grandes empresas do passado viram história enquanto lentamente deixamos de ouvir seus nomes.
Hardware
No mundo da engenharia de hardware, alguns grandes nomes não acompanham a evolução desse mercado. Vendendo equipamentos multimilionários que perdem mercado para clusters compostos por hardwares mais simples e baratos, essas empresas se encontram forçadas a se reinventarem em ramos de serviços que também estão sendo automatizados ou para os quais alternativas de baixíssimo custo estão surgindo.
Com uma maior preocupação com climatização, consumo de energia e densidade, além da popularização de sistemas distribuídos, equipamentos grandes e caros vão deixando de fazer sentido.
Veremos, certamente, a morte de grandes players nesse mercado ou eles serão capazes de abandonar as estonteantes margens de lucro para ofertar serviços inovadores e de baixo custo?
Dados
A ideia do Big Brother foi remodelada. Ao invés da observação direta, o armazenamento de todas ações, humanas ou não, passou a ser feito para análise posterior ou em tempo real. Com isso, os sistemas distribuídos chegam novamente para abalar o mercado dos grandes equipamentos.
Chegou o Big Data! A maior das maravilhas tecnológicas dos últimos tempos. Qualquer análise baseada em histórico agora parece ser possível e novamente chega a automação para divertir ainda mais as mentes ávidas por ação. Machine learning dá um passo adiante e agora tem disponível massas de dados que tendem ao infinito.
Novamente entram aqui os sistemas distribuídos, sejam eles para processamento, acesso ou armazenamento. E trazem consigo uma guerra: grandes empresas tentam remodelar seus produtos (especialmente bancos de dados e storages) para esse mercado e tentam demonstrar seus novos valores enquanto estes são gradativamente abandonados para que se ponham em uso alternativas mais simples e que demandam menos recursos de hardware, ou mais recursos de forma distribuída.
Software
Lembra de seu amigo super fanático pela linguagem C? Embora eu acredite que todos devêssemos ser (amo C), ele também deu o braço a torcer e agora programa em Python, PHP, Java, Go, Clojure e qualquer outra linguagem que aparecer na frente. Programação é programação e, além dos diferentes paradigmas, uma mudança de linguagem envolve mera formalidade de codificação e sintaxe, certo?
Errado! Para diferentes necessidades, diferentes soluções. E novas linguagens chegam quase que semanalmente para suprir a demanda de soluções para novos problemas. Praticidade, reaproveitamento de código, tempo de desenvolvimento, desempenho, consumo de recursos, escalabilidade etc. Tudo isso está em jogo. E com novas linguagens e suas propostas novas soluções e estilos de solucionar problemas surgem.
E quais seriam as maiores propostas dessas incontáveis novas linguagens se não fossem portabilidade, velocidade e escalabilidade? A “guerra” de hoje é pautada exatamente nesses pontos: resposta rápida, disponibilidade na maior gama de plataformas possível e carga de trabalho distribuída.
Distribuição
Perceba que esse termo está espalhado. Poderia até cunhar o termo meta-distribuição, a distribuição distribuída. Distribuindo adequadamente a carga de trabalho resolvem-se três problemas: disponibilidade de recursos, tempo de processamento e disponibilidade do serviço.
Acredite se quiser, mas há poucos anos atrás um servidor web não tinha uma fração dos recursos disponíveis nesse exato momento em seu smartphone. E é exatamente a tecnologia dele que está em vias de invadir o mundo dos Data Centers. Trata-se de densidade e isso exigirá uma ainda maior capacidade de distribuição de carga.
Através da distribuição das cargas de processamento, por exemplo, você conheceu a nova cara da internet onde parte dos sites é gerada no servidor e outra parte no seu próprio navegador. Aproveita-se o poder de processamento que você tem disponível para garantir menor carga nos servidores e menor tempo de resposta.
Pense nisso como uma construção. Quanto mais gente para construir, mais rápido o edifício ficará pronto, pois menos gente estará sobrecarregada. O trabalho será distribuído.
Futuro
Vivíamos, antes, com a dificuldade de um futuro incerto. Mas nesse nosso ramo somos nós quem o criamos. Os grandes players do mundo da internet não fizeram suas opções baseando-se num futuro teórico (vegetativo, digamos), o que fizeram foi definir um futuro prático pautado na inovação, na simplificação e no melhor aproveitamento possível dos recursos disponíveis. Precisaram deixar de lado idéias ultrapassadas para encontrar soluções mais práticas e menos custosas que permitissem maior capacidade e liberdade de desenvolvimento.
Muitas empresas ainda resistem em seguir esse caminho e tentam uma sobrevida baseada em inovação restritiva. Buscam melhorar seus antigos produtos e mudar seus processos internos negligenciando o fato de que o mercado é mutante e que precisa de soluções novas.
Veremos muito em breve mudanças cada vez mais radicais nesse mercado. Infraestrutura não tem mais lugar fixo e está se tornando cada vez mais distribuída. Com a popularização da internet das coisas (IoT), o poder de processamento deixará os grandes centros de dados em poucos anos e novas soluções de disponibilidade e oferta de serviços precisarão nascer.
Em poucos anos nosso mundo será muito diferente. Os atuais analistas de infraestrutura terão se tornado engenheiros ou desenvolvedores. Aqueles que não se reinventarem terão lugar garantido somente nas antigas empresas que também não o fizeram e estarão definhando.
Não faça como alguns desses grandes players, não se acomode e não acredite que atingiu um limite, pois num mercado mutante, ele não existe.
4 Comentários
Realmente o mercado caminha a uma direção onde tudo será movido via Cloud (embora no Brasil ainda há um baixo suporte de internet). E como já vem acontecendo, suportes físicos vem sendo substituídos ou no máximo reduzidos a pequenos dispositivos. E as empresas e profissionais devem aceitar essa realidade e se adequar. Não seguindo aquele exemplo da IBM que apostava em computadores de grande porte pois achava que computadores pessoais (menores) não seria tendência no mercado. E veja hoje como estamos. Ótimo texto.
O futuro é a computação cognitiva onde a IBM está investindo com o Watson, já que ela tinha esse hardware caro e robusto mencionado no texto e teve que se virar. O pessoal de infra , engenheiros elétricos, eletrônicos, vão ter que migrar para Iot rapidamente ou entrar em áreas de big data como estatística e Analytics. A verdade é que não tem emprego para todo mundo como o recém falecido Andrew Grove do silicon valle preconizou. Os robôs estão chegando e muitos que podem preferem estudar fora tirando sua pos graduação e até por lá trabalhando já que no Brasil o ensino é muito precário e não prepara para o mercado. O resultado disso é o aumento da violencia e da corrupção. O melhor é se especializar em algo e assim poder oferecer aos outros como serviço mesmo que seje de forma empreendedora e autônoma como um microempreendedor, movimento que por sinal cresceu 600% com as demissões e falta de emprego. Eu no momento to fora do mercado também….:(
Ótima matéria! Na sua opinião qual seria o rumo (curso) para analista de infraestrutura deveria iniciar para acompanhar essa mudança?
Bruno, do meu ponto de vista isso vai depender muito de preferências pessoais, exatamente no foco de seus trabalhos, o qual caminho você escolher seguir. Vejo opções como engenharia de hardware/appliances, automação de configurações e sistemas de resposta automatizada a incidentes como sendo vastamente explorados atualmente.
Se teu foco for redes, por exemplo, manter-se atualizado com novas tecnologias e sistemas de monitoramento diversos (especialmente no mundo Open Source) que possam ser customizados ou facilmente integrados a outras peças de software pde ser um bom caminho.
Recomendo sempre um aprofundamento em programação, pois assim você pode encontrar meios de automação que possam modificar tanto a rotina quanto o entendimento dos ativos de rede envolvidos. A ideia, inicialmente, pode ser uma mera simplificação de um processo de extração de dados e geração de relatórios, mas conforme o entendimento dessas possibilidades aumenta tende-se a descobrir novas soluções para problemas antigos e/ou novos problemas ainda não percebidos.
Um exemplo prático? Entender os “internals” de um protocolo como o VRRP, por exemplo, pode representar a possibilidade de desenvolvimento e implantação de um protocolo similar ou modificações em um sistema que não o suporte mas que poderia se beneficiar de seu uso.