Já lemos um artigo no PTI falando sobre a responsabilidade imputada à Tecnologia da Informação nos diversos acontecimentos de hoje. Roney Médice começa seu artigo ilustrando como a produção “das coisas” que usamos perde qualidade a cada dia: nos remete ao tempo dos nossos avós, quando televisores duravam gerações; e nos traz de volta ao tempo em que o pessoal de TI é acionado a cada percalço, incluindo a falta de energia geral ou a TV que não liga.
Passamos por esses problemas aqui na empresa (e não só aqui) e aposto que você já se identificou com o cenário. As pessoas “comuns” conhecem pouco de energia, telefonia, redes, mas são mestres em atribuir culpa à internet, mesmo [que não saibam] que o celular esteja lento por causa dos vinte aplicativos mantidos abertos simultaneamente.
Naturalmente, pela afinidade com tecnologias em geral, o profissional de TI acaba sendo uma boa fonte de diagnósticos e opiniões, mesmo que para assuntos diversos aos do cargo. A curiosidade inerente à profissão facilita atentar para o barulho no volante do automóvel e desconfiar de falta de fluído na direção hidráulica (e ainda saber como resolver). Na maioria das vezes, a curiosidade vira benefício. E então entramos em outra questão: a valorização.
TI deixou de ser “um negócio à parte”
Não se discute mais que TI deixou de ser “um negócio à parte” para assumir sua “parte no negócio”. Desde o ponto do funcionário até à publicação de textos em mídias sociais, passando pelo faturamento e controle de estoque, os nerds tem seus dedos em toda a engrenagem de uma operação atualizada. Não seria correto remunerar estes profissionais horizontalmente? Não seria certo todos os centros de custo da empresa justificarem cada salário e investimento em TI? Não deveriam estes profissionais ser retribuídos por sua contribuição ao negócio, ao faturamento e aos lucros, nas devidas proporções?
TI é setor de confiança
Entendamos de uma vez: TI é setor de confiança. Um simples técnico que troque um pente de memória pode atrapalhar toda uma cadeia de produção. O analista de bancos de dados da empresa onde trabalho pode facilmente corromper dados, parar o faturamento e até vender informações vitais para a concorrência. Ética à parte, este profissional precisa ter a mente fresca para produzir lucro para a empresa. Precisa poder pagar sem sofrer por suas viagens de fins de semana e suas happy hours para descontrair a mente (e até promover interação social). Este funcionário será punido caso corrompa os arquivos do computador da gerência; e poderá precisar pagar advogados caso seja processado por espionagem comercial ou lucros cessantes. TI é função de confiança. Ponto.
Num outro artigo, do blogueiro Miniero, o autor relata uma comum frustração pela má valorização da TI. Um dos pontos interessantes é a percepção de que o profissional precisa praticar algo não necessariamente alinhado à sua personalidade: a arte de se vender. O mercado [brasileiro] frequentemente exige que o profissional saia do seu foco técnico e acadêmico para avançar comercialmente e valorizar seu “passe”. Poucos percebem que a cada vez que um profissional é cobrado a se vender, menos tempo ele investe em evolução tecnológica. Conhecemos excelentes técnicos que se tornaram sorridentes vendedores com o passar dos anos, deixando de produzir diretamente pela TI. E não nos referimos ao Bernardinho que, depois de tanto contribuir diretamente com o esporte, continua difundindo conhecimento e experiência. Nos referimos à hipotética [e triste] visão do Dalai Lama em negociatas políticas, em lugar de estar propagando o bem, o exemplo e a boa política de paz e evolução espiritual.
É a chamada “economia porca”
É leviano oferecerem vagas a baixos salários a alguém que provavelmente irá influenciar e patrocinar a operação da sua multinacional (ou mercearia). É a chamada “economia porca”. No outro lado do pêndulo, também é inconsequente um profissional que não se valoriza e admite empregos ou negócios que paguem pouco por muito tempo. O verdadeiro profissional sabe o seu valor e deve cobrar por reconhecimento e progressos na carreira. É claro que ninguém está livre de aceitar um trabalho com baixa remuneração para se recolocar no mercado. Mas se você está há mais de um ano em um emprego que não valoriza o seu trabalho e potencial, que tal diagnosticar se o problema é com a empresa ou com você? Certamente algo precisa ser ajustado.
Parafraseando Médice: “você não é de TI? Então conserta.”
8 Comentários
Nos dias atuais além do profissional de TI não ser valorizado, as pessoas ao seu redor acham que eles são responsáveis em saber tudo, sobre tudo. No ambiente de trabalho geralmente querem sanar duvidas sobre seus smartphones, carros, conta bancária, resumindo, tudo o que envolva tecnologia. Obviamente o profissional está ciente do que se trata o assunto e de como resolver isso, mas com a internet todos tem acesso à informação, e as dúvidas mais frequentes geralmente são dúvidas completamente leigas que em 15 segundos de pesquisa seria o suficiente, mas mesmo assim essas questões ficam a cargo do “IT Guy”.
Não somos culpados por gostarmos de tecnologia e nos darmos bem com ela, somos culpados por não sermos diretos e ficar com o pé atrás para dizer: “Talvez procurando na internet você ache uma resposta mais indicada para o seu problema”.
Pessoalmente não acho que isso seja algo negativo, a não ser que ocorra igual foi frisado pelo autor: “Você não é de TI? Então conserta.”
Obrigado pelo artigo Fernando, isso foi uma grande verdade o profissional que preze seu serviço sabe onde se mete.
Padilha Fernando e Wellington Lima, obrigado pela participação. Tem muito valor. Abraços!
Primeiramente, quero parabenizar o autor por mais esse artigo que é certamente dirigido ao mundo da TI, mas que consegue envolver pessoas comuns nessa escrita tão didática e dinâmica, de fácil compreensão mesmo para leitores leigos como eu. Ao ler esse interessante artigo, deparei-me com três pontos importantes, que mereceram reflexão:
• “As pessoas “comuns” conhecem pouco de energia, telefonia, redes, mas são mestres em atribuir culpa à internet…”.
Como pessoa comum, enquadro-me neste contexto. Reconheço minha ignorância e impotência diante da tecnologia mutante a cada dia. É muito claro, para mim e tantas outras pessoas comuns, que, sem a ajuda de alguém experiente em TI fica impossível entender porque o celular não me obedece, o PC me dá informações que não me interessam, o micro-ondas resolve não mais me informar as horas ou porque a televisão, cheia de tecnologia moderna, desliga-se automaticamente, sem se importar se a reportagem a que estou assistindo estava no ápice. Pra mim, tudo é culpa da internet. Graças a Deus, vivo em uma família que foi abençoada pela presença constante e indispensável de alguém a quem chamamos “Ruddy”, nosso gênio, que nos socorre mais e com mais eficiência que o Google.
Quis escrever este parágrafo para ir além na reflexão sobre o texto, mais precisamente sobre o segundo tópico que me fez refletir:
• “TI é função de confiança. Ponto.”
Nós, pessoas comuns, que o digamos! Tenho por exemplo algumas pessoas que foram lesadas por maus profissionais de TI, que se aproveitando da “inocência doméstica”, “retiraram” peças, programas, fotos e até trabalhos dos “comuns”. Essas pessoas só atentaram para o fato quando, depois de pagarem, o computador não respondia a contento. Como não afirmar que TI é função de confiança? Expandam-se minhas observações às funções do profissional de TI nas empresas.
• É leviano oferecerem vagas a baixos salários a alguém que provavelmente irá influenciar e patrocinar….
Convido o leitor e o autor a raciocinar em cima deste tópico que tão penosamente leva o trabalhador sério a se sentir desmotivado, desvalorizado e infeliz em suas funções no emprego, levando-o a vender-se, trair seus próprios princípios e, por fim, desistir. O médico, o advogado, o enfermeiro, o contador, o profissional de TI…, só chegaram até aí porque tiveram professores. Eles não apenas influenciam como patrocinam e conduzem todos a uma carreira.
Quando o autor diz “O mercado [brasileiro] frequentemente exige que o profissional saia do seu foco técnico e acadêmico para avançar comercialmente…”, me leva a pensar: como vender pipoca ou abrir um salão de beleza na sala de casa vai valorizar o “passe” de alguém que passou anos estudando, ensinando, corrigindo provas, formando profissionais? Esta é sem dúvida uma tônica do mercado brasileiro, oriundo da colônia de exploração, acostumado a dividir “o que sobra”, jamais o que é justo, o que é condizente com a função. Se o empresário brasileiro não entendeu a importância da “mola mestra” do país, imagino a importância que ele dará, durante muito tempo ainda, a uma profissão relativamente nova e ao profissional que ele diz que “mexe com computador”! É triste, mas infelizmente é verdade.
Agradeço seus comentários, Terezinha Ramos. São excelente arremate para o artigo. Quisera ter sido tão completo.
Muito bom o post, sou iniciante na área de TI, curso o 1º Período de Sistemas Para Internet(Tecnólogo) e gosto muito da área.
Concordo plenamente com o profissional de TI saber se valorizar quando recebe uma proposta baixa de salário, porém, creio que o profissional deve também olhar para seu próprio umbigo e fazer a pergunta: “Eu estudei o suficiente? sou qualificado?”, essa pergunta em minha opinião é uma das mais difíceis de se responder,pois quanto mais estudamos, mais sentimos a necessidade de estudar.
Po cara, muito maneira a matéria, pena que ela só funciona na teoria, cada vez mais, as empresas investem menos em pessoal, ou melhor, investe menos nas pessoas. O profissional de TI em alguns casos é tratado como um objeto, um computador. O profissional pode simplesmente ser descartado ou trocado sem nenhum “problema”. É uma pena, os profissionais estão ficando cada vez piores, isso lá embaixo, na base da pirâmide.
Douglas, agradeço os comentários. Por mais que seja comum esse posicionamento do mercado, é nosso dever questionar e sustentar uma negativa à prática. Essa postura, que o mercado não está acostumada (de colaboradores que dizem não), precisa ser ensaiada e posta em prática por cada um de nós. Precisamos nos valorizar. Dizer não a rotinas de horas extras é um bom começo.
Nossas famílias e descanso não podem ser rotineiramente prejudicados por causa de empresas. Afinal, quando ficamos de cama e precisando de sopa quente, empresa nenhuma vai lá fazer cafuné, não é mesmo?