Quem nunca ouviu de um analista de TI a seguinte frase “Os usuários não sabem o que querem!” ou de um usuário “Eu não entendo nada do que esses caras de TI falam!”, que atire a primeira pedra! Com certeza você lembrou de algum momento que já disse essa frase, sendo você um analista de TI ou um usuário.
Um dos maiores problemas nos projetos de TI, ainda hoje, continua sendo a comunicação. Existe um abismo entre os “Usuários” e os “Caras da TI“. Parece que essas duas espécies não falam a mesma língua, e em muitos casos não falam mesmo – o problema é que um precisa do outro para desempenhar a sua função. Por esse motivo, muitas vezes os analistas de TI constroem ótimas soluções que acabam não servindo para nada, por que não era o que o usuário precisava. Nesse momento, o analista culpa o usuário por não saber especificar o que precisa.
Mas de quem é a obrigação de esclarecer o problema: do usuário ou do analista de TI?
Sinto informar, mas essa obrigação é do analista de TI! É dele a obrigação de entender a real necessidade do usuário e traduzir em software. A grande barreira que temos que derrubar na área de TI é a visão que temos do cliente (usuário) como sendo o problema, onde, na verdade, ele é a solução. É para ele que nós existimos, para apoiar o trabalho dele, gerar valor para ele… Se não existissem usuários, pra que serviriam os sistemas?
Vamos a uma reflexão. Uma empresa contrata um engenheiro, esse engenheiro é um usuário que precisa de softwares para desempenhar seu trabalho. O que a empresa espera desse cara? Que ele saiba muito de software ou que ele entenda de engenharia? É claro que para a empresa é muito mais importante que ele entenda de engenharia, afinal ele é engenheiro, estudou e se formou para isso. E quem tem que entender de software? Nós, os profissionais de TI, é que somos responsáveis por entender de software e entender o que esse cara precisa, traduzindo tudo em soluções que, eventualmente, podem envolver software.
Mas espera ai… Eu, profissional de TI, tenho que entender de software e ainda entender do que o usuário faz? Isso ai, estamos começando a nos entender! Quando uma organização contrata um profissional de TI o que ela espera é que ele seja capaz de compreender os problemas que a organização enfrenta para traduzi-los em soluções, ou seja, é responsabilidade da TI entender o que o seu cliente precisa e não o contrário, afinal, como eu posso criar uma boa solução se eu não conheço bem o problema?
Chegamos, então, no grande gargalo que temos hoje na área de TI: o profissional de TI não entende de negócio e a área de negócio não entende de TI. Visando essa necessidade que surgiu a área de Análise de Negócios.
Segundo o BABoK * 2.0, “Análise de Negócios é o conjunto de atividades e técnicas utilizadas para servir como ligação entre partes interessadas no intuito de compreender a estrutura, políticas e operações de uma organização e para recomendar soluções que permitam que a organização alcance suas metas.” (IIBA, 2009). Ou seja, o analista de negócios desempenha o papel de elo entre as partes interessadas e os objetivos organizacionais. Em outras palavras, ele é o profissional responsável por fazer o ‘meio-de-campo’ entre o negócio e a TI. A principal função desse profissional é entender as necessidades do negócio e sugerir soluções para os problemas, que podem envolver software ou não. Muitas vezes, uma mudança de processo pode ter um resultado muito melhor do que simplesmente implantar um software.
Mas a análise de negócio vai muito além de um cargo. Como diz o BABoK, “é um conjunto de atividades e técnicas” que podem ser usadas por qualquer profissional de TI que quer desempenhar melhor o seu papel. “Um Analista de Negócios é qualquer pessoa que exerça atividades de Análise de Negócio, não importando qual seja seu cargo, função ou papel”, segundo o BABoK.
Temos que, primeiramente, entender que o usuário é o nosso cliente, é pra ele que trabalhamos. Entendendo isso, o nosso esforço deve ser para servi-lo, para entregar soluções que atendam o negócio, o software tem de ser uma solução, algo que facilite o trabalho do usuário, e não o contrário.
Por isso surgiu a análise de negócios, para reduzir esse abismo que existe entre o negócio e a TI. Utilizando as técnicas de análise de negócios, o analista de TI poderá entender a necessidade do negócio, conhecer os problemas reais e não apenas os que o usuário acredita ter. Entendendo bem os gargalos do negócio, o analista conseguirá desempenhar melhor a sua função, que é desenvolver soluções para facilitar a vida do usuário e contribuir para que a organização alcance os seus objetivos estratégicos.
* Business Analysis Body of Knowledge – resume o conhecimento de profissionais que praticam análise de negócios e inclui melhores práticas do mercado.
3 Comentários
O primeiro problema é a falta de interesse dos profissionais de TI em entender de negócios, o segundo é a falta de comunicação com o usuário. Problemas bem decorrentes que só são resolvidos com certa experiência.
Concordo com você Renan, a falta de interesse dos profissionais de TI de entender do negócio é o grande problema, com a experiência o bom profissional de TI vai percebendo a importância que tem entender do negocio para melhorar os seus resultados. Isso é uma mudança que vem aos poucos, com a conscientização dos profissionais de TI e a diminuição desse abismo.
O principal problema para aqueles que desejam atuar neste contexto da profissão de TI, é não ter o conhecimento mínimo necessário para poder ser uma “ponte” entre os 2 mundos: negócios e TI. Esses conhecimentos são explicados neste artigo do Profissionais TI: https://www.profissionaisti.com.br/2013/12/para-ser-um-profissional-de-ti-e-necessario-saber-programar/
Na empresa em que trabalho, vi bons profissionais das áreas de negócio serem convidados a atuar neste papel e sofrerem muito, pelo fato de não possuir a formação mínima em TI. Então, apesar da boa vontade e do bom conhecimento do negócio, não conseguiam andar livremente pelo mundo da tecnologia da informação.
Esse fato gerou conflitos internos entre as diversas partes (TI e Negócio) e abalou fortemente a credibilidade na proposta de Análise de Negócios. Sem falar nos problemas psicológicos para os profissionais que vieram das áreas de Negócio, uma vez que se viam impotentes diante deste novo desafio.
É claro que a postura pessoal diante de problemas como este variam de um profissional para outro. Entretanto, é inegável que o impacto negativo é muito forte.
Cheguei à conclusão de que se a alta administração da empresa não for bem pautada dos tipos de problemas que essa falta de preparação pode causar, ou se não agir para apoiar a construção do conhecimento necessário à atuação eficaz e eficiente destes novos profissionais, a Análise de Negócios certamente fracassará na Organização.
Então, a preparação para implantação da Análise de Negócios em uma Organização empresarial é tão importante quanto a disciplina em si.