Processo Motivacional e seus Componentes

Atendendo a mais uma encomenda de vocês leitores, o assunto hoje é motivação. A minha proposta é tecer aqui o que penso sobre o assunto de forma totalmente empírica. Portanto, não adianta pedir suporte na literatura consagrada para as minhas afirmações. 

Bom, primeiro convém definirmos o que é motivação. Então, consultando o ” Pai Google”, consegui a seguinte definição:

conjunto de processos que dão ao comportamento uma intensidade, uma direção determinada e uma forma de desenvolvimento próprias da atividade individual.”

Imagem via Shutterstock

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Ou seja, pela definição, nós, seres humanos, buscamos sempre alguma força interior (ou exterior) que seja capaz de nos mover na direção de um objetivo. Tá, mas de onde vem essa força? Quais são seus componentes? Ela pode ser invocada? Enfim, podemos controlar nossa motivação ou ela que nos controla?

Outra consideração que podemos tirar da definição acima é que “Motivação” é um processo (ou conjunto de processos) e não apenas um episódio metafísico, sendo mais recomendado nos referirmos a ela como “Processo Motivacional”. Esse ponto é importante na medida em que desmistifica um pouco aquela nossa mania de esperar pela motivação como se ela fosse um arco-íris, o qual aparece depois da chuva apontando o local do tesouro. Na verdade, como um processo, a motivação pode ser mapeada e otimizada, desde que possamos contar com uma boa dose de auto-conhecimento. 

Começando a nossa tese, lembremos que o Grande Mestre Concurseiro Gustavo Vilar sempre fala que a motivação teria duas fontes básicas: a fuga da dor e a busca do prazer. Tratemos cada um por vez, então. 

fuga da dor é um fator de motivação, sem dúvida, mas seu problema é ser um fator reativo. Traduzindo, o indivíduo de alguma forma se deixou (salvo casos fortuitos e de força maior) entrar em uma condição de dor, ou de proximidade da dor, para só depois agir. Por exemplo, levar uma vida saudável só depois de quase ter morrido de um ataque do coração não é uma linha que costuma ser recomendada. Trazendo para o mundo dos concursos, não vou recomendar que você primeiro fique falido e com os filhos passando privações, para tentar “despertar” em você disposição para estudar. 

buscar do prazer também é um fator de motivação, contudo tem um viés mais proativo. Ou seja, normalmente ele te leva a sair de uma situação tranquila (zona de conforto) para outra que vai te dar mais satisfação ainda. Quando você olha aquela casa na beira da praia e pensa o quanto gostaria de morar lá, é muito provável que seu corpo e sua mente respondam àquele estímulo. “Aquela casa na beira da praia” é chamada de objetivo de vida. Então, chegamos ao primeiro componente da motivação, qual seja, ter um objetivo de vida.

E não basta falar, objetivos tem que ser registrados e estimulados. Você pode registrá-los na forma de lista, resumo, mapa mental, foto, etc. E estimular o sonho é fazer seu cérebro farejá-lo. Isso mesmo, seu cérebro é como um cão perdigueiro, continue estimulando seu “faro”, que ele vai passar a perseguir os objetivos de forma quase automática. Exemplo? Coloque como imagem de desktop o cartão postal da viagem que você quer tanto fazer.

Fuga da dor e busca do prazer, Walter? Parece que estamos falando de drogas. 

Sim, é isso mesmo. A motivação não deixa de ser algum um tipo de “anabolizante cerebral”. O fato de ser um anabolizante em si não é problema, uma vez que existem anabolizantes naturais. O problema começa acontecer quando você cria dependência da “droga”.

Situações típicas relacionadas à motivação:

  • Ausência de motivação. Na verdade, todo ente vivo tem uma motivação, nem que seja a própria necessidade em continuar vivendo senão… Ou seja, existe motivação sim, mas em um nível que não passa do necessário para sobrevivência dia a dia. É o famoso “vida leva eu” do Zeca Pagodinho. 
  • Motivação Súbita. A motivação surge sem ser planejada, provavelmente decorrente de algum sonho/desejo adormecido ou até então desconhecido. Daí podemos ter dois caminhos:
  • Motivação não Aproveitada. Ou seja, você recebe aquela descarga cerebral, mas não canaliza em algo produtivo. Esse é o comportamento típico de pessoas preguiçosas e/ou que se vitimizam. Esse comportamento só tem um destino, a frustração. São pessoas que preferem rastejar quando o impulso recebido poderia fazê-las voar.  
  • Motivação Aproveitada. A motivação surge e, diferente do comportamento anterior, o indivíduo a aproveita por meio da atitude. Eis aqui mais um componente, pois motivação sem atitude é apenas sonhar acordado. 
  • Motivação Invocada. Ou seja, mesmo sob uma percepção pontual de ausência de motivação, um ser humano, por meio de um processo consciente, é capaz de fazer brotar Motivação onde a princípio não existia. Esse processo consciente é mais um componente da motivação e se chama disciplina. A disciplina é fonte de emergência da motivação, ou seja, é o que mantém a nossa atitude e nos lembra de nossos objetivos, quando a própria motivação entra em um processo de autodestruição. 

E o que seria o processo de autodestruição da Motivação? É a paralisia que corre quando os fatores de motivação entram em colisão, normalmente um imediato versus o outro perene. Alguma situações:

Situação 1: 

  • Objetivo: entrar em forma
  • Atitude: começar a correr
  • Autodestruição: os primeiros dias de exercícios são extremamente doloridos. Então, a fuga da dor imediata (parar de correr) começará a tentar relativizar a busca do prazer de se levar uma vida saudável. Afinal, você não está tão gordo assim, não é mesmo? Percebeu?
  • Disciplina: lembrar do quanto seu sobrepeso o está prejudicando (saúde e imagem) e continuar correndo. 

Situação 2:

  • Objetivo: estudar para o concurso X
  • Atitude: reduzir a saída com a galera. 
  • Autodestruição: você vai usar o final de semana para estudar, e seus “amigos” estão te ligando para aquele balada “imperdível”. Nesse momento, a busca do prazer imediato (aceitar o convite) vai tentar relativizar sua necessidade de estudar para sair da “liseira” (fuga da dor). Afinal, você também é filho de Deus, não é?
  • Disciplina: continuar estudando, mesmo com aquele aperto no coração. 

Fazendo um balanço do nosso aprendizado, você já tem um Norte (objetivo), já saiu do lugar (atitude) e vai continuar remando (disciplina). Porém, como saber se a cada dia você continua seguindo na direção certa? Como garantir que não vai faltar combustível no meio do caminho? Se for necessário replanejar, onde verificar o que foi feito até o momento? O que estou tentando dizer é que você vai precisar de um método para gerenciar o processo motivacional. E esse método hoje em dia provavelmente vai precisar ser assistido por ferramentas auxiliares ao cérebro provavelmente, mas não necessariamente, computacionais. Tratei sobre esse assunto no post “FERRAMENTAS PARA CONCURSOS – PARTE I (PRODUTIVIDADE)“. 

Gostaria de falar ainda sobre um componente que eu acho importante para evitar a famosa “alopração”, é o contexto. Imagine que você decidiu correr aos sábados pela manhã, mas está caindo o maior toró e tem muita árvore por onde você normalmente passa. Se não houver um flexibilizador da disciplina, você iria correr e acabar se resfriando e/ou tomando um raio na cabeça. Trazendo para concurso, não adianta você tentar estudar bem na hora de brincar com os seus filhos, pois algo vai acabar saindo mal. Enfim, na engenharia aprendemos que prédios são feitos para balançar, do contrário os mais altos se partiriam diante da menor brisa. Como disse uma vez o mestre Bruce Lee em sua lendária entrevista: “Seja água, meu amigo”. A moral da história, você precisa de discernimento para reconhecer em que contexto está, ter flexibilidade para se adaptar e aproveitar o quanto possível os contextos impostos pelo dia-a-dia. 

Será que ainda falta algum componente? Sim!

Mas antes vamos citar alguns auto-sabotadores do processo motivacional:

  • Vergonha: não perseguir um objetivo por receio do que os outros vão pensar;
  • Ignorar Seus Instintos: se algo está te incomodando e você não sabe o porquê, é melhor parar e investigar essa sensação. Seus instintos básicos podem estar emitindo um alerta que seu cérebro não está conseguindo interpretar; 
  • Efeito Manada: querer uma coisa simplesmente porque todo mundo está querendo também;
  • Egocentrismo: não medir os impactos que a realização dos seus sonhos terão nas pessoas ao seu redor; 
  • Não respeitar seus limites: o destino é sempre o colapso físico e/ou mental no meio do caminho;
  • Deixar as coisas inacabadas: finalize bem cada etapa ultrapassada, tendo ou não havido sucesso. Se houve, comemore, mesmo as pequenas vitórias. Se não houve sucesso, faça um processo de lições aprendidas.

O processo de Lições Aprendidas é o retroalimentador do Processo Motivacional, e é tão importante que pode também ser considerado o sexto componente. Assim, chegamos a composição da motivação: objetivo, atitude, disciplina, método, contexto e Lições Aprendidas

Espero que tenham gostado. 

Bons Estudos e até o próximo artigo! (aceito sugestões)


3 Comentários

Natan Concurseiro
1

Ótimo texto! O que eu acho genial e característico nos posts do Prof Walter é o quanto eles são pontuais, didáticos e são escritos de uma forma para serem aplicados. Até mesmo com temas como Motivação que são tratados por muitos de forma abstrata.
Parabéns, Prof! Sou fã do seus posts!

Jan R. Krejci
3

Sensacional o artigo Walter. Meus parabéns pelas sábias palavras.
Uma lição não só para o mundo dos concursos mas também para qualquer objetivo que se deseje alcançar na vida.

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