Não me chame de velho, mas é verdade que já se vão uns 10 anos desde a minha primeira atividade como recrutador. E, pelo menos nos últimos quatro, tenho tido interessantes experiências ao selecionar talentos para vagas em TI.
Como ocorre em todas as áreas, temos uma distância entre (1) o profissional que as faculdades formam e (2) o profissional que as empresas desejam. Apesar da “culpa” poder ser atribuída à faculdade, a encrenca é ainda maior quando ela não percebe, exatamente, onde está o problema.
Por exemplo: será que programadores precisam falar? Hum… alguns pensam que não. Talvez as empresas – e, certamente, muitas faculdades – julguem que uma boa lógica de programação, sozinha, baste para manter o profissional empregado – algo como um abajur que conhece orientação a objetos…
Mas é possível que não seja bem assim. Conforme uma empresa cresce, os profissionais mais antigos se veem diante de situações de coordenação de equipe, reuniões com clientes, etc. Lembremos que o dono daquela empresinha lá do começo não pode continuar responsável por tudo quando passa a ter 300 funcionários. Ele precisará delegar.
Necessidade de delegar. Este é o exato ponto onde as oportunidades aparecem para o baixo clero. E este é o exato ponto ignorado pelas faculdades. Vem comigo.
O que as instituições realmente formam quando ensinam diversas linguagens de programação aos seus alunos? Elas formam “operadores”. E do que a empresa precisa quando o trabalho de seus operadores vira uma bagunça? Ela precisa de alguém que os organize, que os coordene: um coordenador. Bem, o coordenador precisa falar, certo? Falar com os clientes, para saber o que eles querem – e para dizer o que não dá para fazer – depois falar com os operadores para fazer acontecer tudo aquilo que ele combinou com o cliente.
Complementemos a informação anterior utilizando um velho conceito da Economia: a Lei de Oferta e Demanda. Em outras palavras, o mais raro é o mais caro. Bem, operadores existem aos montes por aí, saindo de tudo quanto é lugar. Coordenadores, não. Quem, então, tem a chance de receber um maior salário? Quem corre menos riscos de ser mandando embora?
O mais raro é o mais caro porque ninguém quer perder o mais raro. E o mais raro, na programação, é o que também sabe falar – com clientes, com a equipe. Se estivéssemos falando de atores, todos saberiam falar e o mais valioso seria, talvez, o que também fosse capaz de programar… Mas estamos falando de TI e, no caso da programação, programar não é um sonho dourado: é o mínimo.
Para terminar, analise a sua faculdade. Faça um rápido levantamento do percentual de matérias dedicadas à técnica – que simplesmente iguala você ao resto do mundo – e do percentual dedicado aos relacionamentos – que poderia diferenciá-lo do resto do mundo.
Obs.: Não é relacionamento entre tabelas, viu, programador? Estamos falando de pessoas…
Após essa análise você constatará o óbvio: existe um verdadeiro descaso acadêmico em relação ao assunto que mais poderia se apresentar como um trampolim para a sua carreira.
Pense nisso.
8 Comentários
Boa Noite;
Muito bem lembrado caro Álvaro,
o que mais se vê ,e durante um certo período também me incluo nesta ordem, são operadores.
Na minha opinião programador tem q saber falar o básico com a equipe. Não acho q deve ser exigido q um programador saiba falar bem. Isso é um requisito para analistas, e nem todo programador é analista. No momento q um programador precisar falar mais do q programar eu acho q tem algo mto errado na empresa.
kkkkkkkkkkk
Dahora na parte que falou “Não é relacionamento entre tabelas, viu, programador? Estamos falando de pessoas…”
Muito boa a matéria valeu pela dica!
Hoje com o advento das práticas ágeis de desenvolvimento, cada vez mais exige-se dos profissionais envolvidos em um time de desenvolvimento sejam auto organizáveis, multidisciplinares e auto gerenciáveis. Para isso precisam desenvolver a comunicação e fazer-se entender diariamente o que fez, o que vai fazer, o que o esta impedindo de prosseguir, além de compartilhar conhecimentos com a equipe. Não se conduz um bom projeto ágil, como por exemplo utilizando o frame SCRUM com robôs e sim com pessoas que saibam interagir o tempo todo, inclusive com o dono do produto que é o representante do cliente.
Parabéns pelas matérias publicadas, procuro me atualizar sempre com o conteúdo aplicado.
Parabéns pelas ótimas matérias, Álvaro. Realmente as melhores que eu leio!
Concordo que as universidades formam muito mais empregados do que empreendedores, como já vi em outro site por ai. Mas bem, sobre programadores precisarem falar, eu acho que isso é também uma questão de personalidade e ai quem pode talvez descobrir um talento oculto é o gestor.
Uma coisa que me incomoda bastante por ai é infelizmente o fato de que sempre temos que nos vender a todo o tempo. Sou uma pessoa quieta, reservada, tanto dentro do ambiente de trabalho, quanto fora dele, sou feliz assim e não vou mudar. Mas tenho imaginação e ideias a oferecer, se houver quem quiser tirar um tempo para ouvir. E assim acontece com muita gente por ai. Mas poucos gestores se interessam em correr atrás, preferem que todos sejam do jeito que eles mesmo desejam, o jeito fácil da coisa.
Acredito muito que um bom gestor pode tornar alguém que não seja tão falante, em alguém que com poucas palavras possa dar muita contribuição, inclusive talvez coordenar, se houver qualidades nele para isso, “qualidades diferentes do resto do mundo”, usando seu termo. Se eu fosse gestor, pelo menos seria o que eu buscaria, não somente ver qualidades em quem se vende, mas também naquele que está no seu canto, buscando fazer o seu melhor, que pode ter muito a oferecer, uma possibilidade que poderia perder por ficar só esperando ou correr atrás de outro sendo que tenho algo que posso trabalhar na minha frente.
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