Passei 13 anos da minha carreira trabalhando e envolvido com tecnologia. Meu primeiro emprego foi na área de suporte em um provedor de Internet. Sempre acreditei que a minha carreira seria construída trabalhando com a minha paixão.
Percorri um caminho desafiador até decidir empreender e fundar minha startup. A motivação era ter meu próprio projeto, e construir algo de valor para sociedade. O que eu não sabia era que essa transição seria o maior desafio de todos, e que eu teria que recomeçar algumas coisas, até aquelas que eu já havia conquistado.
Quando tive a ideia sobre minha empresa há dois anos, era difícil escutar alguma coisa sobre startup, empreendedorismo digital, investimento anjo ou ecossistema. Diferentemente, hoje, percebo quanta gente empreende por motivos de oportunidade, ou simplesmente para aparecer, ou porque acha legal a modinha. Já eu acredito em fazer por uma motivação certa.
Há muito tempo parei de usar uma palavra, na verdade substitui por outra: “difícil” por “desafio”. E, sim, empreender é, em minha opinião, o maior desafio de uma decisão de vida.
Às vezes escuto as pessoas dizerem: “Vou arriscar e trocar de emprego!”. Não arriscamos trocando de emprego, arriscar mesmo é quando nos responsabilizamos por outras pessoas, é quando devemos satisfação para a sociedade ou para nossos clientes, quando temos um compromisso com nossos colaboradores, sócios e investidores.
Em uma entrevista para uma revista, uma jornalista me questionou: ”A pessoa nasce empreendedora?”. A minha resposta foi o que aprendi nesses dois últimos anos, porque aprendemos com o tempo e com a experiência. Disse para ela que acreditava que ninguém nascia com o dom para empreender, e que na minha percepção eram algumas características pessoais somados ao modelo mental de cada pessoa.
Destaquei então três pontos: facilidade em lidar com as incertezas, ambiente e resiliência.
O primeiro, facilidade em lidar com as incertezas, é porque estamos falando de risco, e a incerteza do negócio é constante. Muitas pessoas não suportam a ideia de não ter a segurança de um salário no fim do mês, ou a responsabilidade de não ter os recursos suficientes para pagar seus colaboradores. Para um empreendedor, isso faz parte do negócio e não determina seu estado, pode até afetar em alguns momentos, mas não tira o foco.
O segundo, ambiente, vem embalado de uma história: Quando era adolescente, lembro-me da minha tia no interior de São Paulo que fazia sonho e salgados para vender. Ela queria melhorar, crescer e trabalhava para isso. Lembro que eu e meus primos ficávamos na torcida para sobrar alguma coisa ao final do dia para comermos, tremenda sacanagem, minha tia ralando e a gente torcendo pra ela não vender, coisa de criança. Também passei por médias empresas, onde trabalhava diretamente com o empreendedor, o cara que estava investindo e buscando construir algo de valor para sociedade. Era bacana a experiência de estar ali vendo como era o dia-a-dia, as dificuldades de alguém para construir algo, mas com paixão, com uma motivação que não deixava desistir.
E por último, resiliência. A melhor definição de resiliência em minha opinião é de Conner-Davidson, que diz que empreendedores mais resilientes apresentam uma melhor adaptação frente às mudanças e obstáculos, ou seja, os “desafios”. Quando decidimos empreender sofremos um impacto, percebemos como é duro o dia-a-dia, que não temos ajuda o suficiente, que o ambiente é hostil, que é difícil encontrar bons profissionais, acertar o produto, validar etc… E que erramos! E entendemos que é assim que podemos crescer, que as dificuldades fazem as oportunidades e que a curva de aprendizagem nos ajuda a crescer. Entendemos a diferença entre fazer para construir ou fazer por outra razão qualquer.
Autor: Fernando Canuto – Fundador e CEO do bougue – www.bougue.com.br
1 Comentários
Excelente artigo! Diferente de outros artigos sobre empreendedorismo que trazem uma imagem “confeitada” sobre as maravilhas de se empreender. Gostei da sinceridade e desafios retratados. Muito bom!