Neste artigo gostaria de falar sobre algo que vem me intrigando muito. Nos meus treinamentos e workshops voltados para Scrum, vejo que cada vez mais as pessoas buscam respostas prontas, “fórmulas mágicas” de como aplicar o Scrum dentro de suas empresas, e se decepcionam demais comigo quando muitas vezes respondo: “Esquece, nessas condições você não consegue aplicar o Scrum dentro de sua empresa.”
Alguns agilistas tem sua parcela de culpa, pois vendem a “fórmula mágica” através de um guia simples de pouco mais de 10 páginas, chamado Scrum Guide. Segundo eles, basta ler e sair aplicando de forma xiita que tudo dará certo. Minha opinião ? Equívoco e utopia.
O que costumo dizer para as pessoas é que eles devem seguir o conceito do Shu-Ha-Ri (termo japonês de artes marciais), onde:
- Shu (Seguir a regra) – Tentar aplicar o Scrum de sua forma pura e ver no que dá
- Ha (Quebrar a regra) – Começar a adaptar o Scrum de acordo com a estrutura de sua empresa
- Ri (Ser a regra) – Encontrar o ponto ideal onde o Scrum funcione dentro da sua empresa
Outra recomendação que dou para meus alunos é seguir um checklist de verificação. Cada um destes pontos foram abordados em artigos no PTI, são eles:
1) Antes de qualquer coisa veja se o fator humano da sua empresa está alinhado com os valores do Manifesto Ágil:
- Indivíduos e interações mais que processos e ferramentas
- Software funcional mais que documentação abrangente
- Colaborar com o cliente mais que negociar contratos
- Responder à mudanças mais que seguir um plano
2) Verifique se você corre riscos de cair em uma das 10 armadilhas mencionadas neste artigo.
3) Lembre-se que uma boa visão de produto nasce do Product Owner. Verifique se você possui as pessoas certas para ocupar este papel.
4) Verifique se a química Scrum Master x Product Owner é boa. Veja o estrago neste artigo se você não tiver as pessoas certas para ocupar os papéis.
5) Entenda se seu Time Scrum tem autonomia e controle sobre todas as variáveis do projeto. Se não tiver, não seja xiita e não acredite no falso mantra do “auto-gerenciamento”, traga um Gerente de Projeto.
6) Foque na na construção de uma equipe auto-organizada. (Já falei que não acredito em auto-gerenciamento )
7) Não se esqueça que a entrega final do projeto não é para o time e sim para os stakeholders. Tenha as pessoas certas na arte de gerenciar suas expectativas.
8) Se seu projeto é voltado ao desenvolvimento de software, não se esqueça de aplicar os 7 princípios de desenvolvimento Lean.
9) Invista em certificações voltadas para métodos ágeis.
10) Por último, entenda que agilidade é diferente de correria. Fuja do “fazejamento” como o diabo foge da cruz. Agora se você for um “fazejador” profissional, fuja do Scrum como o diabo foge da cruz, pois ele não vai resolver seus problemas 🙂
Resumindo, não existe resposta pronta, muito menos “fórmula mágica”. É tentando adaptar o método à realidade da sua empresa, errando, identificando a melhoria, tentando novamente, até atingir um ponto de maturidade.
Meu checklist proposto está longe de ser a cartilha definitiva, são apenas pontos que procurei observar durante minhas experiências e compartilhá-los com os leitores do PTI.
Abraços e um ótimo 2014!
2 Comentários
Que ótimo este artigo! Diria mais, que ele está mais para um “mapa do tesouro” bem detalhado do caminho a trilhar, pretendo acompanhá-lo com os links postados na matéria.
Queria te perguntar algo Vitor, sou programador e me interessei por me certificar em Scrum paralelamente à minha carreira e para isto usar um bom tempo livre que desperdiço todos os dias: o ônibus. Você tem algum livro para me indicar?
Muito obrigado e parabéns pelo artigo!
Att.
Bruno Gomes.
Olá Bruno,
Primeiramente muito obrigado pelo feedback !
Recomendo muito o Agile Project Management With Scrum do Ken Schwaber e o Agile Estimating and Planning do Mike Cohn !
Abraços,
Vitor Massari